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A surra que nós levamos

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Transporte coletivo: não aceite reajuste na tarifa

Ernesto de Souza

A matéria “Estudantes geram demanda extra de 13 mil nos coletivos”, veiculada na segunda-feira (07), no caderno Público, da Gazeta do Paraná, me deixou preocupado e em estado de alerta. O fato da Cettrans (Companhia de Engenharia de Transporte e Trânsito) tentar colar nos estudantes a culpa pelo transporte falho e de péssima qualidade mostra que a companhia começa o ano com “más intenções”. 

O trabalhador, estudantes e usuários em geral do sistema de transporte coletivo de Cascavel conhecem bem a atual situação do serviço.  Podemos resumir em lotação – literalmente -, horários mal distribuídos, regiões mal atendidas e acima de tudo, preço alto para algo que deveria ser público. 

Hoje, a catraca nivela o acesso ao transporte coletivo com a tarifa de R$ 2,20 – no caso dos estudantes o valor cobrado cai pela metade, desde que se tenha o cartão de vale transporte; para idosos e deficientes a passagem é “gratuita”. Não há interesse por parte da administração municipal em transformar o serviço em algo público, municipalizado, em que as pessoas possam se transportar sem precisar gerar lucro para empresas do setor privado.

Prova disso está na página 4 da edição do jornal citado acima, em que o transporte coletivo de Cascavel é o tema principal. A Cettrans divulgou belas análises de possíveis mudanças para melhorar o serviço, um “Projeto dos Sonhos”, como um dos títulos da página sugere. Ótimo. Mas em nenhum momento surgiu uma solução para o “tarifaço” atual. Transformaram o abuso em algo normal, rotineiro e necessário. Com isso alienam a sociedade, que sem esclarecimento, acredita nessas falácias dos administradores burgueses.

Mas o que mais me preocupa diz respeito a matéria localizada no rodapé da página, “Estudantes geram demanda extra de 13 mil nos coletivos”. De acordo com o texto, a “Cettrans deixa de arrecadar R$ 571 mil por mês” com o “benefício” da meia-passagem para estudantes. Reproduzo um trecho da matéria:

“O presidente detalha que apesar de ser um direito do estudante, o desconto dado na passagem traz prejuízo ao sistema. ‘O valor da passagem é calculado a partir de todos os gastos que as empresas têm no transporte, dividido entre os usuários que devem utilizar o transporte. Dessa forma, toda forma de gratuidade ou desconto dá impacto no orçamento’”. A declaração é do presidente de Cettrans, Jorge Lange. 

Um pouco mais adiante o seguinte dado é “trazido a tona”: “Considerando que 13 mil estudantes utilizam 20 dias por mês a meia-passagem para ir e voltar da escola, a Cettrans deixa de arrecadar R$ 572 mil por mês”.

Tais informações e declarações só reafirmam aquilo que já se esperava: um novo reajuste da passagem do transporte coletivo de Cascavel. O terreno está sendo preparado pela Cettrans para que o “tarifaço” ganhe mais corpo e pese ainda mais no bolso de trabalhadores, estudantes e população em geral. Para isso, estão em busca de um culpado. Tentam colocar estudantes contra demais usuários. Tentam introduzir desde já o típico jogo sujo, em que o objetivo é aumentar os lucros. 

Estamos diante de algo que parece estar consumado. O aumento já deve estar na agenda daqueles que ocupam cargos de decisão sobre o assunto, no Poder Municipal, e dos vereadores. Nas anotações, inclusive, é bem possível que haja uma observação: “É a menor tarifa do Brasil”. Esse deve ser o argumento dos ilustres. Retórica que engana por não refletir sobre a verdade. 

Vejamos a atual situação de algumas capitais brasileiras. Em São Luís (MA), cidade com 1.011.943 habitantes, a taxa cobrada é de R$ 1,60. Vitória (ES), Brasília (DF), Boa Vista (RR), Macéio (AL), Natal (RN) e Palmas (TO) o valor da passagem é de R$ 2,00. É importante que o leitor tenha conhecimento desses números e perceba que existem tarifas menores que a praticada em nosso município. Mas não basta analisar apenas o valor do ponto de vista financeiro. Existe por trás dessas práticas abusivas o fator respeito. Quanto mais abusiva for a tarifa, menor o respeito dos homens públicos pela população.

Em Cascavel, um pré-combate ao novo aumento da tarifa deve ser colocado em ação. Se eles esperam alienar, devemos conscientizar. Se eles esperam enfraquecer, devemos nos fortalecer. Se eles preparam o terreno para plantar o novo “tarifaço”, devemos reforçar o veneno contra essa praga das políticas burguesas.

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