domingo, 27 de fevereiro de 2011

Militante do PCB fala sobre agressão sofrida em manifestação

Entrevista feita pela jornalista Lúcia Rodrigues com Vinicius Figueira Boím, militante do PCB, brutalmente agredido por policiais militares e guardas civis da Prefeitura na última quinta-feira durante a manifestação contra o reajuste da tarifa dos ônibus, no centro de São Paulo.

A entrevista foi ao no Jornal Brasil Atual, na Rádio Terra FM 98,9. Além de Vinicius, participaram o vereador Antonio Donato, do PT, que também foi agredido pela polícia e Marcelo Pomar, que liderou os protestos contra a catraca em Florianópolis nos anos de 2004 e 2005. Marcelo Pomar é filho de Pedro Pomar.

Segue o link com a entrevista.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

CARTA CONJUNTA

O que foi o CONEB da UNE?

O 13º Conselho Nacional de Entidades de Base (CONEB) da União Nacional dos Estudantes (UNE), realizado entre os dias 15 a 17 de janeiro de 2011, após o cancelamento do primeiro dia do evento, contou com um número de estudantes bem abaixo do número oficial anunciado pela diretoria da UNE. A principal pauta do encontro foi o Plano Nacional de Educação. A dispersão na organização, a crescente despolitização nos debates e o tempo extremamente restrito para tais, transformaram o CONEB mais em uma mera oficialização de algumas medidas do que um espaço de discussão política profunda do atual cenário da educação e das universidades brasileiras. O que se viu no evento foram debates qualitativamente débeis e pouco efetivos para os encaminhamentos das resoluções da entidade. É preocupante o tom dado a alguns dos debates, limitados a um elogio ufanista do governo federal, demonstrando completa subordinação das pautas da UNE à agenda política palaciana. Essa ausência de discussões e formulações também faz parte do processo de amoldamento da UNE e outras entidades da sociedade civil brasileira à ordem dominante. Isso se torna flagrante ao constatarmos o atual estágio de atrelamento político e financeiro da União Nacional dos Estudantes a governos. O CONEB, por exemplo, contou estruturalmente com o apoio do governo estadual do Rio de Janeiro, notavelmente conservador e com diversas ações de criminalização da pobreza e de vários movimentos sociais combativos.

A UNE hoje, infelizmente, optou por interditar os debates que visavam à crítica permanente ao sistema educacional e a formulação de propostas alternativas e autônomas do movimento universitário. Ao fazer isso, aliou-se com a modernização conservadora – que não representa uma democratização substantiva do complexo econômico, político e social da sociedade brasileira -, optou por uma política de conciliação e se tornou uma entidade dependente do governo federal e, ao mesmo tempo, corrente de transmissão de sua política. Neste mesmo sentido, as ações da entidade se deram de forma descolada de práticas cotidianas junto à base dos estudantes universitários brasileiros, fato que tem como conseqüência um imobilismo permanente, que vai desde a organização de seus fóruns de debate e deliberação até a efetivação (ou não efetivação) de suas resoluções.

Ao mesmo tempo, pensamos que essa constatação não deve levar a uma conclusão simplista de que o problema da UNE passa exclusivamente por uma “crise de direção”. Essa análise tem levado muitos setores combativos a adotarem medidas exclusivamente táticas descoladas do conjunto das contradições objetivas da sociedade brasileira. Assim, o problema do movimento estudantil se resumiria apenas a vontades, posturas e práticas de um determinado grupo dirigente, que deveria ser trocado por outro “honesto, combativo e de esquerda” – seja na disputa interna da entidade ou na criação de novas estruturas que, no fundo, refletem análises muito próximas. Na verdade, os problemas do movimento estudantil perpassam o seu todo - desde as entidades de base até as entidades gerais - o que, em nossa avaliação,possui suas raízes principalmente na ausência de desenvolvimento de um projeto educacional alternativo ao vigente, ou de iniciativas que apontem para esse projeto. Isso faz reduzir as políticas, práticas e debates no ME à esfera da pequena política como, por exemplo, a disputa de cargos, o clientelismo, a troca de favores, entre outros. Embora esses pareçam o problema em si, são apenas algumas das conseqüências de um dilema maior. Desse modo, embora reconheçamos o esforço feito por diversos setores que atuam dentro ou fora da UNE em reorganizar o ME, acreditamos que essas disputas permanecerão inócuas se não avançarem para a compreensão da importância do debate estratégico em nosso meio: a necessidade de romper completamente com o projeto educacional da ordem atual.

Universidade Popular: uma luta necessária

Acreditamos que a análise e a crítica às transformações ocorridas no sistema educacional devem fazer parte da ordem do dia do Movimento Estudantil. No que diz respeito ao ensino superior, não é de hoje que o ME tem buscado fomentar o debate acerca do caráter da Universidade, bem como de suas contradições, que se desdobram em potenciais transformações. Exemplo clássico dessa prática foi a reivindicação histórica da Reforma Universitária que, nos anos 1960, após intensos debates e reflexão teórica, culminou em grandes mobilizações nacionais. Tal processo de crítica e mobilização se deu em um contexto onde o ME pautava, de maneira autônoma, um projeto de universidade que superasse a lógica do mercado no sentido do desenvolvimento e da produção de conhecimento que fossem direcionados para a resolução de necessidades essenciais das classes trabalhadoras. Superar o analfabetismo, viabilizar a reforma agrária, socializar os meios de produção, impor uma democratização interna da universidade, eram apenas alguns dos objetivos indicados pelo movimento universitário à época. Um fato bastante relevante, é que essa elaboração da Reforma Universitária passou a ser inserida dentro do conjunto das “Reformas de Base”, ganhando um aspecto de luta popular, indo para além do próprio movimento estudantil e universitário na época. Muitos erros foram cometidos pela esquerda na época[1], no entanto, com isso não devemos incorrer no erro de relegar aquela experiência, que se demonstrou exitosa no sentido de comprovar a necessidade de elaborar um projeto estratégico junto aos processos de luta. A mediação entre a disputa interna da universidade, a elaboração de um programa para ela, e a ligação deste com o programa da revolução brasileira (corrigindo os erros do passado) é uma tarefa de longo prazo e é um desafio que está posto para as novas gerações, se a intenção for realmente a de reorganizar o movimento estudantil e colocar a universidade no fluxo das transformações necessárias.

Por isso, acreditamos que a educação não se descola do contexto social em que está inserida. Uma análise do sistema educacional não pode ser feita sem um diagnóstico da (des) ordem social vigente. Na sociedade capitalista a educação é, nesse sentido, um dos mecanismos de reprodução da lógica da exploração tanto no âmbito do planejamento e controle do sistema produtivo (através da reprodutibilidade técnica de mão de obra para o mercado de trabalho, bem como das pesquisas realizadas nas áreas de Ciência e Tecnologia), quanto no âmbito da hegemonia ideológica (onde impera uma pedagogia da exploração e da competitividade em que os indivíduos são condicionados a uma vida regrada pelo consumo). Esse quadro vem se agravando, especialmente com a deflagração da crise estrutural do sistema do capital nas últimas décadas, que apontam a incapacidade do sistema sociometabólico do capital de deslocar suas contradições do centro para a periferia. Isso faz com que as crises cíclicas (e a atual crise é emblemática nesse sentido), inseridas no contexto global de crise estrutural - e diferente das tradicionais crises cíclicas setoriais -, sejam mais prolongadas, com menor tempo de recuperação, com manifestações mais destrutivas e que atingem a totalidade do sistema.

Diante desse cenário nefasto, a Juventude Comunista Avançando (JCA), a União da Juventude Comunista (UJC) e a Juventude Liberdade e Revolução (LibRe), apresentaram no CONEB deste ano a proposta POR UMA UNIVERSIDADE POPULAR (acúmulo de debates que vêm sendo feitos desde o CONUNE de 2009), que foi plenamente defendida na plenária final, de forma a apresentar aos presentes no fórum o indicativo de um debate estratégico acerca da construção de Universidade Popular que esteja a serviço da classe trabalhadora, visando contribuir para transformações radicais na sociedade. Assim, pretendemos nos contrapor ao campo governista e fomentar a discussão sobre um projeto educacional que esteja pra além da lógica do Capital.

Entendemos que, diante do quadro que é apresentado pela sociedade em que vivemos, as transformações na universidade têm importante papel a cumprir na luta pela emancipação dos “de baixo”. É necessário lutar pela democracia interna nas instituições de ensino superior, criar novos conhecimentos transformadores do mundo e pintar a universidade com as cores dos movimentos sociais. É extremamente necessário lutar pela democratização do acesso, disputar o caráter da ciência direcionando para as demandas populares, construir um sistema de ensino emancipador que forme homens e mulheres críticos e com participação ativa na vida política da sociedade. Estes são alguns de nossos principais pilares. Ao mesmo tempo, entendemos que não será possível constituir plenamente a Universidade Popular (nos marcos de nossa luta) dentro do modelo de sociedade regido pelo Capital, onde prevalecem princípios do lucro, alienação, desigualdade; fundados em uma base social de produção onde prevalece a propriedade privada e a exploração do homem pelo homem, pois, os próprios pilares qualitativos e quantitativos do projeto de universidade popular se chocam com o desenvolvimento e demandas do capital. Quer dizer, trata-se de um projeto de universidade que ao mesmo tempo afirma a necessidade de um modo de produção e controle social socialista através da aglutinação de setores, grupos, organizações e pessoas que vêem que o problema da educação em nossa sociedade, perpassa a necessidade concreta de ir além dos marcos de organização da vida pautada pelo capital. Entendemos que nossa luta contribuirá para formar homens e mulheres comprometidos com o povo e que serão multiplicadores da transformação radical e revolucionária de nossa realidade social. O que defendemos aqui é que os movimentos ligados à educação (de secundaristas, universitários, professores do ensino básico e universitário, e trabalhadores das instituições educacionais) não devem ficar passivos diante do que se vê. Devem, em suma, corroborar dialeticamente com a aceleração das transformações necessárias e globais da sociedade em que estão inseridos.

Igualmente, devemos reconhecer que o campo que se opõe às correntes governistas,onde estamos inseridos, tem dado uma resposta ao avanço da modernização conservadora com pouca adesão de massas por conta de sua atual situação conjuntural: em função da popularidade das políticas federais, tem se limitado a posicionar-se reativamente ante a inevitável retirada de direitos que tal modernização traz consigo. Esse engessamento tem como principal problema a falta de um projeto alternativo que não seja subordinado à lógica do Capital. Sabe-se muito contra o quê lutar, ao mesmo tempo em que se sabe pouco em favor de quê lutar. Esse é mais um dos motivos pelos quais julgamos essencial construir e lutar por um projeto de Universidade Popular.

A construção de outro projeto de universidade ainda é insatisfatoriamente trabalhada pelo movimento universitário, que, no atual cenário de refluxo dos movimentos políticos e sociais, vem sendo absorvido por disputas pequenas e muitas vezes fratricidas, que na maioria das vezes não acumulam para um horizonte de transformação radical da realidade social. Para que possamos construir um projeto estratégico para a transformação da universidade, estamos convocando organizações, coletivos, partidos e indivíduos a se somarem na preparação e realização do I Seminário Nacional sobre Universidade Popular, no segundo semestre de 2011. Após a primeira reunião de organização, construímos junto a diversos coletivos e entidades o texto “Rumo ao 1° Seminário Nacional sobre Universidade Popular”, com os primeiros apontamentos consensuais e a indicação de uma nova reunião de organização para os dias 12 e 13 de Março de 2011, na cidade de Porto Alegre. Essa será uma grande oportunidade para potencializarmos e qualificarmos nossa atuação como força progressista na disputa por uma universidade para além dos marcos do capital: crítica, criadora de ciência e tecnologia para a superação das mazelas sociais e para a emancipação humana; e popular, em sua forma – sendo aberta a todos que hoje não tem acesso a uma educação superior pública e de qualidade – e em seu conteúdo – no sentido de se identificar com os anseios dos explorados e oprimidos de nossa terra, e solidária a todos os povos em luta por transformações sociais.

Juventude Comunista Avançando (JCA)

www.cclcp.org/jca
jca@cclcp.org


União da Juventude Comunista (UJC)

http://www.uniaodajuventudecomunista.blogspot.com/
ujcbrasil@yahoo.com.br


Juventude Liberdade e Revolução (LibRe)

www.juventudelibre.blogspot.com/
juventudelibre@yahoo.com.br

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[1] Caberia analisar que a Reforma Universitária era reivindicada dentro de um contexto onde a esquerda brasileira tinha uma elaboração equivocada do caráter da Revolução Brasileira. A análise de que a democratização da sociedade brasileira e a superação da dependência e do subdesenvolvimento viria com o desenvolvimento de um capitalismo autônomo, inseriu a reforma universitária dentro de um contexto de cauda política de supostos “setores progressistas” da burguesia nacional. A história demonstrou que essa formulação estava equivocada: não só o capitalismo já havia se desenvolvido, como já havia entrado em um processo de transição de sua fase competitiva para sua fase monopolista entre as décadas de 50 e 60.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Documentário: Comprar, descartar, comprar. A obsolescência planejada


Baterias que "morrem" em 18 meses de uso; impressoras bloqueadas ao alcançar um determinado número de impressões; lâmpadas que derretem às mil horas... Por que, apesar dos avanços em tecnologia, os produtos de consumo duram cada vez menos?

Filmado na Catalunha, França, Alemanha, Estados Unidos e Gana, “Comprar, descartar, comprar” faz uma viagem através da história de uma prática empresarial que consiste na redução deliberada da vida útil de um produto, para aumentar o seu consumo pois, como publicado em 1928 em uma influente revista de publicidade estadunidense, “um artigo que não se deteriora é uma tragédia para os negócios."

O documentário, dirigido por Cosima Dannoritzer e co-produzido pela TV espanhola, é o resultado de três anos de pesquisa; faz uso de imagens de arquivo pouco conhecido, fornece provas documentais e mostra as desastrosas conseqüências ambientais decorrentes dessa prática. Também apresenta vários exemplos do espírito de resistência que está crescendo entre os consumidores, e inclui a análise e opinião de economistas, designers e intelectuais que propõem alternativas para salvar a economia e o meio ambiente.

Uma “luz” na origem da obsolescência planejada

Tomas Edison fez a sua primeira lâmpada em 1881. Durou 1.500 horas. Em 1911, um anúncio na imprensa espanhola destacou os benefícios de uma marca de lâmpadas com um certificado de duração de 2.500 horas. Mas, como foi revelado no documentário, em 1924 um cartel que reunia os principais fabricantes na Europa e os Estados Unidos negociaram para limitar a vida útil de uma lâmpada elétrica à 1.000 horas. O cartel foi chamado “Phoebus” e, oficialmente, nunca existiu, mas, em “Comprar, descartar, comprar” é mostrado o ponto de partida de obsolescência planejada, que hoje é aplicado a produtos eletrônicos de última geração, como impressoras e iPods, e aplicada também na indústria têxtil.

Consumidores rebeldes na era da Internet

Ao longo da história do “vencimento previsto”, o filme descreve um período da história da economia nos últimos cem anos e mostra um fato interessante: a mudança de atitude nos consumidores, através do uso de redes sociais e da Internet. O caso dos irmãos Neistat, do programador de computador Vitaly Kiselev, e do catalão Marcos López demonstram isso.

África, aterro eletrônico do Primeiro Mundo

Este uso e descarte constantes têm graves conseqüências ambientais. Como vemos nesta pesquisa, países como o Gana estão se tornando a lixeira eletrônica do Primeiro Mundo. Até então, periodicamente, centenas de containers chegam cheios de resíduos, sob o rótulo de "material de segunda mão", e, eventualmente, tomar o lugar de rios ou campos onde as crianças brincam.

Além da denúncia, o documentário dá visibilidade aos empresários que implementam novos modelos de negócio, e ouvem as alternativas propostas por intelectuais como Serge Latouche, que fala sobre empreender a revolução do “decrescimento”, a redução do consumo e a produção para economizar tempo e desenvolver outras formas de riqueza, como a amizade ou o conhecimento, que não se esgotam ao usá-los.

Documentário “Comprar, descartar, comprar”: 



A terceira morte de Vlado Herzog



Ricardo Kotscho

Pense num absurdo, em algo totalmente inverossímel, num completo desrespeito aos que querem contar a nossa história e à memória de quem tombou na luta pela redemocratização do país.

Pois foi isso que sentiu na pele esta semana o jornalista Audálio Dantas ao procurar o Arquivo Nacional, em Brasília, para poder finalizar o livro que está escrevendo sobre o seu colega Vladimir Herzog, o Vlado, torturado e morto nos porões do DOI-CODI durante a ditadura militar (1964-1985).

Vlado já tinha sofrido duas mortes anteriores: o assassinato propriamente dito por agentes do Estado quando estava preso e o IPM (Inquérito Policial Militar) que responsabilizou Vlado pela sua própria morte, concluindo pelo suicídio.

Esta semana, pode-se dizer que, por sua omissão, o Ministério da Justiça, agora responsável pelo Arquivo Nacional, matou Vladimir Herzog pela terceira vez, impedindo o acesso à sua história.

Muitos dos que foram perseguidos naquela época, presos e torturados, estão hoje no governo central, mas nem todos que chegaram ao poder têm consciência e sensibilidade para exercer o papel que lhes coube pelo destino.

É este, com certeza, o caso de Flávio Caetano, um sujeito que não conheço, chefe de gabinete do ministro da Justiça, meu velho ex-amigo José Eduardo Cardoso, por quem eu tinha muito respeito.

Digo ex-amigo pelos fatos acontecidos ao longo da última semana, que relatarei a seguir.

Na segunda-feira, Audalio Dantas me contou as dificuldades que estava encontrando para pesquisar documentos sobre o antigo Serviço Nacional de Informações (o famigerado SNI) no Arquivo Nacional, e pediu ajuda para falar com alguém no Ministério da Justiça.

Explique-se: um dos primeiros decretos baixados pela presidente Dilma Rousseff, o de 7430, de 17 de janeiro de 2011, determina a transferência do Arquivo Nacional e do Conselho Nacional de Arquivos da Casa Civil da Presidência da República para o Ministério da Justiça.

Por se tratar de quem se trata, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo na época do crime praticado contra Vlado, que denunciou o assassinato, profissional dos mais premiados e respeitados do país, com 57 anos de carreira _ provavelmente mais do que os nobres Cardoso e Caetano têm de idade _, encaminhei a Audálio o telefone do gabinete do ministro da Justiça.

E lhe recomendei que falasse diretamente com José Eduardo Cardoso, explicando a ele as absurdas dificuldades que estava encontrando no Arquivo Nacional para fazer o seu trabalho.

Foi muita ingenuidade minha, claro. A secretária do ministro, de nome Rose, certamente sem ter a menor idéia de quem é Audálio Dantas e de quem foi Vladimir Herzog, decidiu burocraticamente passar o caso para o tal chefe de gabinete, Flávio Caetano, que estava “em reunião com o ministro”, garantindo que ele entraria em contato mais tarde.

Até aí, faz parte do jogo. Chefe de gabinete é para isso mesmo. Serve para fazer a triagem das demandas que chegam ao ministro, e não devem ser poucas.

Acontece que, pelo jeito, Flávio Caetano também nunca ouviu falar de Audálio e Herzog. Tanto é que, depois de mais uma dezena de telefonemas, sem conseguir ser atendido pela excelência maior nem pelo chefe de gabinete, o jornalista-escritor resolveu encaminhar este e-mail ao Ministério da Justiça:

“Prezado Senhor Flávio Caetano

Provavelmente o senhor não me conhece, por isso apresento-me: sou Adálio Dantas, jornalista, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e da Federação Nacional dos Jornalistas, ex-deputado federal. Tentei vários contatos telefônicos com o senhor, sem resultado. Por isso envio-lhe esta mensagem.

Estou concluindo (com prazo para entregar à Editora Record) livro sobre o Caso Herzog, do qual fui parte. Necessitando de informações sobre o assunto, procurei, no último dia 10, o Arquivo Nacional _ Coordenação Regional de Brasília, que mantém a guarda dos papéis do Serviço Nacional de Informações. Depois de me identificar, preenchi fichas de solicitação, tomando o cuidado de acrescentar informações adicionais sobre o caso, hoje referência histórica.

Como dispunha apenas de uma cópia de procuração que foi dada pela viúva de Herzog, Clarice, datada de agosto de 2010, disseram-me que era necessário documento original, com data mais recente. Já estava para buscar outra procuração quando recebi (dia 14/02) ofício em que se exige, além da procuração:
- Certidão de óbito de Vladimir Herzog
- Certidão de casamento


Considero que, em se tratando de caso histórico, de amplo conhecimento, e quando se sabe que a União foi responsabilizada na Justiça pelo assassinato de Herzog, tais exigências são absurdas e até desrespeitosas. Que atestado de óbito terá a viúva para mostrar? O que foi lavrado com base no laudo do médico Harry Shibata, que servia ao DOI-CODI e confessou tê-lo assinado sem ver o corpo? E que certidão de casamento terá Clarice Herzog juntado à ação que impetrou contra a União pela morte do marido?

E se a pesquisa fosse sobre o ex-deputado Rubens Paiva, quem forneceria o atestado de óbito? Desse jeito, ninguém conseguirá saber sobre ele no Arquivo Nacional.

Gostaria de discutir mais a questão que envolve, parece, deliberada dificultação de pesquisa. Ou, no mínimo, desconhecimento histórico por parte desse órgão público.

Faço questão que essas informações cheguem ao conhecimento do ministro José Eduardo Cardoso, que deve conhecer minha história.

No aguardo de uma resposta,
Atenciosamente,
Audálio Dantas”.

No momento em que escrevo este texto, no final da tarde de sábado, dia 19/02, Audálio continua esperando uma resposta. Na melhor das hipóteses, suas informações não chegaram às mãos do ministro José Eduardo Cardoso. Não tenho como saber porque também não consegui falar com o ministro.

Na sexta-feira à tarde, depois de ler o e-mail acima que Audálio enviou ao chefe de gabinete, sem receber retorno, liguei para o gabinete do ministro. A secretária que me atendeu, provavelmente a mesma que recebeu as ligações de Audálio Dantas, já ia me despachando direto para a assessoria de imprensa do ministério. Fui bem educado:

“Minha senhora, eu não quero entrevistar o ministro. Eu preciso falar com ele pessoalmente sobre um caso grave e urgente do qual ele deve tomar conhecimento”.

Só aí ela permitiu que eu soletrasse meu sobrenome, respondeu-me que sabia quem eu era, pediu os números dos meus telefones e, imaginei, cuidou de passar a ligação para o ministro. Minutos de silêncio depois, a secretária voltou para me dizer, sem muita convicção, que o ministro estava ocupado e me ligaria em seguida. Também estou esperando até agora.

Na hierarquia da falta de respeito pela própria função que exerce, o menos responsável nesta história é o funcionário de nome Raines, que se apresentou como historiador ao atender (ou melhor, deixou de atender) Audálio Dantas.

A sua superiora, Maria Esperança de Resende, coordenadora-geral da Coordenação Regional do Arquivo Nacional no Distrito Federal, é quem assina o absurdo pedido de documentos. Alguém superior a ela a colocou lá sem perguntar se as suas qualificações eram adequadas ao seu pomposo cargo no comando do Arquivo Nacional.

Talvez o jeito mais simples e barato de resolver este problema seja baixar outro decreto presidencial e devolver o Arquivo Nacional à Casa Civil da Presidência da República, como era antes, já que o Ministério da Justiça não parece muito interessado no assunto nem preocupado com o seu funcionamento.

Das duas uma: ou Cardoso está muito mal assessorado ou não entendeu ainda quais são os seus compromissos e responsabilidades no Ministério da Justiça do governo de Dilma Rousseff, a presidente da República que, ao contrário de Vladimir Herzog, conseguiu sobreviver às torturas na ditadura militar.

http://colunistas.ig.com.br/ricardokotscho/2011/02/19/a-terceira-morte-de-vlado-herzog/?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2011/02/19/a-terceira-morte-de-vlado-herzog-363687.asp

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

SALÁRIO MÍNIMO: A BOFETADA NA CARA DOS TRABALHADORES


imagemCrédito: PCB


(Nota Política do PCB)

Os trabalhadores brasileiros assistiram desapontados, mais uma vez, o anúncio do novo salário mínimo de 545 reais. A presidenta Dilma, durante a campanha eleitoral, como num samba de uma nota só, não cansou de propagandear, a exemplo de Lula, o crescimento econômico do país como sendo o jamais visto na história. O aumento de 510 para 545 reais (6,87%), foi uma verdadeira bofetada na cara do povo brasileiro.

A grande maioria da população esperava, diante do alardeado crescimento, que o atual governo tivesse sensibilidade social para dar início à recomposição das perdas salariais das últimas décadas. Existe gordura econômica suficiente para dar ganhos reais ao salário mínimo de forma que os trabalhadores pudessem ver melhor atendidas as suas necessidades de morar, se alimentar e vestir, além de ter acesso a lazer, cultura e saúde. Como previa o decreto que deu origem ao salário mínimo há mais de 50 anos.

Qualquer exercício de economia doméstica, por mais primário que seja, revelará que o novo valor a ser pago não garante vida digna para uma família de quatro pessoas. Foi com essa compreensão que, em dezembro de 2010, o DIEESE anunciou que R$ 2.227,53 seria o valor mínimo necessário para dar dignidade às famílias dos trabalhadores.

As profundas modificações ocorridas no mercado de trabalho, por conta do processo de expansão das relações capitalistas nos últimos anos, responsáveis por aprofundar a depreciação do valor da força de trabalho e das condições laborais, ampliaram a presença de empregos e subempregos informais, precários e temporários no conjunto da população ocupada. Alguns estudos apontam que a renda dos 25% mais pobres tem alta correlação com o valor do mínimo. E mesmo fora do alcance da lei, a remuneração dos assalariados sem carteira, autônomos e empregados domésticos é fortemente influenciada pelo valor do salário mínimo. O mesmo acontece com os rendimentos de aposentados, pensionistas e funcionários públicos de baixa renda.

O governo federal insiste no desequilíbrio das contas públicas como o principal obstáculo para a majoração do salário mínimo. Trata-se, inteligentemente, do uso de pesos e medidas distintos para abordar as causas do déficit público no Brasil. A enorme dívida pública, o pagamento de juros estratosféricos e ainda o socorro a entidades financeiras privadas, resultam numa gigantesca transferência de renda para os credores do Estado, para a iniciativa privada, em nome de uma estabilidade econômica que prioriza descaradamente os lucros.

Quando se discute o salário mínimo, os parâmetros são outros. Só são apresentados, de forma exagerada, os impactos do aumento do salário mínimo, sem relacioná-los com o crescimento do orçamento e do PIB. Com esta manipulação, deixa-se de debater os principais impactos do aumento, ou seja, quais transferências são mais significativas do ponto de vista social. Aquelas que se concentram nos credores do Estado (bancos, empresas, ricos, classe média alta) ou aquelas que afetam diretamente a renda de dezenas de milhões de brasileiros?

A indignação popular com o novo salário mínimo cresce quando se compara com o verdadeiro assalto aos cofres públicos que foi o reajuste de 60% nos salários dos parlamentares, aprovado recentemente pelo mesmo Congresso Nacional que reajustou o novo piso em cerca de 6%. Dá para imaginar quão maior seria essa indignação, se fosse do conhecimento de todos o lucro obtido pela agiotagem oficial dos banqueiros somente com os pagamentos de juros da dívida interna efetuados com parte das verbas da União nos últimos governos.

Não é necessário, no entanto, nenhum instituto de criminalística para identificar os donos das digitais dos que promovem insistentemente criminosas desumanidades com os trabalhadores. Os que aprovaram tanto o esquálido salário mínimo para o ano de 2011, bem como a mordida dos vampiros no orçamento para pagar os juros da dívida pública são os mesmos que recebem somas bilionárias para gastar com suas eleições, na compra de votos, contratação de cabos eleitorais e com as agências de publicidade encarregadas de iludir a classe trabalhadora. Representam todos os interesses do grande capital e, mesmo que se apresentem como defensores de uma lenta e gradual melhoria das condições de vida das massas e dos “excluídos”, contribuem efetivamente para consolidar a hegemonia burguesa em nosso país.

As digitais são dos gerentes do Plano de Aceleração Capitalista (PAC), no Executivo e no Legislativo e das entidades sindicais governistas. São da presidenta Dilma e seus ministros e dos partidos da base de sustentação do governo (PT, PCdoB, PMDB, PDT, PSB, PTB, entre outros).

Não podem deixar de ser citados também os Partidos declaradamente guarda-costas da rapinagem capitalista (PPS, PSDB, DEM, etc.) que tentaram jogar para a plateia sugerindo outros valores para o mínimo. O cinismo destes é do tamanho do desmonte e sucateamento do patrimônio público que promoveram, ao entregaram a preço de banana as estatais brasileiras, no processo de privatizações. São todos farinha do mesmo saco de maldades.

Os comunistas entendemos que aos Partidos e demais organizações comprometidas com a luta contra a ordem capitalista e pela construção da sociedade socialista cabe a dura tarefa de ir além do denuncismo e do economicismo. É preciso organizar a classe trabalhadora. Na guerra entre o capital e trabalho não pode haver trégua. O fogo concentrado dos inimigos está direcionado para os direitos e a rede de proteção social do povo que trabalha ou está desempregado ou aposentado. A disputa da hegemonia neste momento passa, necessariamente, pela construção de uma Frente Anticapitalista e Antiimperialista que construa um sistema de alianças capaz de dar protagonismo àqueles que nada mais têm a perder, de forma que possam tomar a história em suas mãos e edificar a sociedade justa, fraterna e igualitária. Nessa tarefa estaremos juntos.

Fevereiro de 2011

PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO
Comissão Política Nacional

Organização da UJC no Paraná

Realizamos, neste ultimo final de semana, um ativo de organização do Partido Comunista Brasileiro, que foi antecedido pelo encontro de bases da Juventude e Sindicais.

A UJC no Paraná deu um grande passo na direção da reconstrução revolucionária, organizando sua militância no sentido de direcionar ações táticas dentro da estratégia do Partidão. Abaixo está a carta que apresenta nossa reorganização, lida pela UJC no ativo do PCB.

Carta ao Ativo de Organização do Partido Comunista Brasileiro, Paraná

Nós, da União da Juventude Comunista, iniciamos neste ano de 2011 um processo de organização estadual. Tendo em vista a necessidade de uma juventude combativa, orgânica e revolucionária, como parte inerente ao processo de Reconstrução Revolucionária do PCB, concentraremos esforços para criar uma unidade forte e participativa frente as lutas locais, nacionais e internacionais. Neste sentido registramos aqui nosso repúdio à crueldade dos quatro policiais que espancaram, na última quinta-feira, dia 17 de fevereiro de 2011, nosso camarada da UJC de São Paulo, em ato pacífico, do qual também participamos em Curitiba na mesma data, contra o aumento da tarifa de ônibus. No último final de semana, nos dias 12 e 13 de fevereiro, parte da juventude do Paraná se reuniu na Universidade Estadual de Maringá, encontro que proporcionou a nós um primeiro contato, trocas de informações das demandas locais, análise da conjuntura interna da UJC, o debate das resoluções do XIV congresso do PCB e do V congresso da UJC, e as primeiras conversas sobre a Escola Itinerante no estado, e a Universidade Popular.

Agora, no pré-ativo da juventude, realizado no dia 19 de fevereiro de 2011, organizamos as comissões regionais e a direção estadual, de caráter provisório, sendo que nossa estrutura será definida na Conferência que realizaremos entre o final de 2011 e inicio de 2012. Todas as tarefas que por nós serão realizadas estarão direcionadas na estratégia da revolução socialista no Brasil. Uniremos nossas atividades de formação às nossas práticas, às nossas lutas diárias, sempre em prol da classe trabalhadora. Assim, saudamos o ativo de organização do PCB no estado do Paraná e a todos os camaradas aqui presentes.

VIVA A REORGANIZAÇÃO DA UJC NO PARANÁ!
VIVA A RECONSTRUÇÃO REVOLUCIONÁRIA DO PCB!
UJC Paraná

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Punição Exemplar dos Responsáveis Pela Selvageria Policial Diante da Prefeitura de São Paulo


imagemCrédito: 4.bp.blogspot.com


(Nota Política do PCB)
O PCB, Partido Comunista Brasileiro, repudia com veemência a brutal repressão perpetrada pela Polícia Militar de São Paulo e pela Guarda Municipal da cidade de São Paulo contra os manifestantes que protestavam pelo aumento abusivo da tarifa dos ônibus da cidade.

Uma ação com violência desproporcional, que atingiu diversos manifestantes, em especial ao militante do PCB, Assistente Social e pós-graduando na PUC/SP, Vinícius Buim, operado esta manhã, em função de ferimentos graves provocados pelas agressões covardes feitas por policiais militares e guardas civis municipais, quando já estava dominado e imobilizado. A ação selvagem e extremada da tropa de choque da PM mais uma vez demonstra o despreparo e o desequilíbrio emocional presente nos policiais militares e em seus comandantes. Sabemos que esse é o comportamento corriqueiro e tresloucado dessa corporação, cotidianamente envolvida em denúncias de violações dos mais elementares direitos do cidadão.

O PCB exige do Sr. Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alkcmin, a rigorosa apuração desses atos de selvageria bestial por parte de uma autoridade policial que deveria primar pela sobriedade e pelo profissionalismo.

As imagens divulgadas pelas televisões de todo o pais demonstram os abusos e a brutalidade policial. Não bastasse a violenta agressão aos manifestantes, com espancamentos, balas de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, os policiais da PM de São Paulo também agrediram covardemente vereadores que lá estavam em apoio aos manifestantes e que tentaram dialogar com o comandante da operação.
Aguardamos um posicionamento do governador e do prefeito Kassab. Pedimos ao Ministério Público que acompanhe e que garanta as ações legais para punir exemplarmente os responsáveis por esses atos dignos dos tempos ditatoriais.

Repudiamos a postura do prefeito paulistano, que dialoga com a população através de cassetetes e balas de borracha da PM e de sua Guarda Civil Municipal. Repudiamos a atitude passiva do governador diante da bestialidade da polícia da qual é o comandante em chefe.

Não à criminalização dos Movimentos Sociais!

Pela Punição Exemplar dos Responsáveis!

Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 2011.

Comitê Central do Partido Comunista brasileiro – PCB.

MOÇAO DE REPUDIO A REPRESSÃO POLICIAL POR PARTE DO ESTADO BRASILEIRO

A Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social historicamente vem na luta contra qualquer forma de repressão por parte do Estado brasileiro. O companheiro Vinicius agora Assistente Social, já foi um dos militantes da ENESSO em seu período de graduação em Serviço Social e demonstra todo o seu comprometimento na luta pelas transformações societárias.

A demonstração de violência por parte dos policiais na ultimo dia 17/02/2011 foi mais uma expressão explicita do que já ocorre com a juventude nos “bolsões de miséria” do nosso país, onde diariamente jovens são taxados de marginais e sofrem nas mãos da policia.

Os atos contra o aumento da tarifa é uma manifestação legitima contra toda esta lógica mercantil do transporte coletivo no Brasil, demonstra o quanto os nossos direitos estão sendo a cada dia mais submetidos à lógica do capital, onde as instituições tidas democrática não ouvem os pedidos da população, exceto as justificativas de um pequeno numero de empresários donos de companhia de transporte.

Repudiamos toda forma de violência por parte do Estado, esta violência não tem outra justificativa a não ser preservar apenas uma pequena minoria abastada do país.

O Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo repudia a violência da polícia de São Paulo no ato contra o aumento arbitrátio das passagens, que penaliza a população, e se solidariza inteiramente com o assistente social Vinícius e os vereadores agredidos em frente à prefeitura.

Exigimos a identificação e punição imediata de todos os que não hesitaram em agredir quem defendia, pacífica e democraticamente, os usuários do transporte público e a economia popular.

Grupo Tortura Nunca Mais
Rose Nogueira
Presidente

Nota de Solidariedade do MPL-SP sobre a violência policial na manifestação de 17/02:

O Movimento Passe Livre São Paulo considera desproporcional, violenta e despreparada a ação policial ocorrida na manifestação do dia 17/2 em frente a Prefeitura. O Comando da Operação se excedeu no uso da força, agindo violentamente contra manifestantes d esarmados e em protesto contra o aumento abusivo das tarifas de ônibus em São Paulo. As imagens da detenção de Vinicius Figueira, bem como a cena de policiais militares com suas armas de fogo em punhos e a repressão que se abateu também contra a mídia, somada as agressões aos vereadores que estavam presentes no local, deixam clara a desproporcionalidade e o absurdo da ação policial. Por esse motivo, manifestamos aqui nosso repúdio à essas ações conduzidas pela Polícia Militar de São Paulo Por fim, cabe destacar nossa preocupação com o estado de saúde atual de Vinicius. Nós, do MPL-SP, estamos sinceramente à disposição para apoiá-lo no que for preciso, desde a articulação para punir os policiais envolvidos na ação, bem como no auxílio com seus cuidados médicos. Acreditamos que a solidaredade militante se faz fundamental em momentos como esse, e é por esse motivo que estamos a qui!

Movimento Passe Livre São Paulo, 18 de fevereiro de 2011.

Por uma vida sem catracas!

NOTA PÚBLICA DO FÓRUM PAULISTA LGBT À MARCHA CONTRA A HOMOFOBIA
EM REPÚDIO ÀS AGRESSÕES A MANIFESTANTES PELA POLÍCIA EM SÃO PAULO

O Fórum Paulista LGBT vem a público, nesta Marcha contra a Homofobia que se realiza hoje, convocada em protesto contra os ataques homóficos ocorridos nos últimos tempos na cidade de São Paulo, manifestar antes de tudo nossa total adesão e compromisso com a mobilização para este importante ato, uma vez que entendemos que é somente expressando nossas demandas e fazendo pressão sobre as autoridades e os poderes constituídos que chegaremos ao pleno respeito à diversidade de orientação sexual e identidade de gênero. Por isso, nesta jornada de luta, queremos também manifestar nosso repúdio frente à truculência da Polícia de São Paulo em relação a militantes que foram às ruas para se opor ao abusivo aumento da tarifa de ônibus.

Em 17 de fevereiro, várias pessoas foram agredidas com gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetes pela PM em frente à Prefeitura de São Paulo. Entre elas, um jovem assistente social foi brutalmente espancado por vários policiais, com chutes e golpes de cassetetes, mesmo quando já estava imobilizado no chão, ação que foi documentada por fotos e vídeo. Encontra-se hospitalizado e deverá, inclusive, passar por cirurgia. Repudiamos esta e qualquer outra forma de violência e exigimos que os fatos sejam rigorosamente apurados e os responsáveis, punidos. Somos totalmente solidários a este militante e ao Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo, que está à frente do caso.

É um direito legítimo da população paulistana expressar sua discordância frente à elevação abusiva do preço da passagem ao valor de R$ 3,00, bastante superior até mesmo ao custo de um litro de gasolina, numa clara sinalização de não priorizar o transporte coletivo em detrimento dos automóveis como que se locomovem um número bem menor de indivíduos. Chega a ser criminoso o fato de a Prefeitura de São Paulo, com tal tarifa, privilegiar os ricos e a classe média, sacrificando em contrapartida os mais pobres.

Talvez alguns – que participam desta Marcha – se perguntem o que aquele protesto tem a ver com nós, LGBTs. A verdade é que, se nos calarmos diante das injustiças (tanto o aumento do ônibus quanto a repressão aos protestos legítimos), estaremos sendo coniventes com elas. Elas implicam no cerceamento de nosso direito de ir e vir, pois a passagem mais cara nos obriga a reduzir o número de viagens para ir ao trabalho, para estudar ou simplesmente circular pela cidade. De que adianta termos uma cidade sem homofobia se não podemos usufruir as possibilidades que ela nos oferece, se somos obrigados a ficar em casa por falta de dinheiro?

Devemos nos opor contra tudo aquilo que limita a nossa liberdade, afinal a luta contra a opressão vai muito além do direito – que hoje aqui reivindicamos – de andar de mãos dadas, beijar ou manifestar afeto por alguém do mesmo sexo. Liberdade de caminhar pelas ruas e usar o transporte coletivo do jeito que somos, com nossos corpos, sem ter de esconder nada de ninguém, pois temos orgulho de sermos lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.

FÓRUM PAULISTA LGBT
São Paulo, 19 de fevereiro de 2011

MANIFESTAÇÃO CONTRA A AÇÃO VIOLENTA DA POLÍCIA MILITAR E PREFEITURA DE SÃO PAULO: PELO DIREITO DA LIVRE MANIFESTAÇÃO

Desde o início de 2011, quando fomos surpreendidos pelo aumento abusivo da tarifa de ônibus municipal em São Paulo, a população e muitos movimentos, entidades, militantes em geral, estiveram articulados em manifestações contra esse aumento, buscando, assim, um canal de diálogo com o Poder Público.

Contudo, tais manifestações tem sido repreendidas duramente via ação truculenta da Polícia Militar e sua Tropa de Choque, como o que ocorreu durante a sexta manifestação realizada neste ano (17/02/2011), em que mais uma vez houve espancamentos, causando graves ferimentos nos manifestantes do Movimento Passe Livre, militantes de vários segmentos e vereadores que apóiam a luta pela redução do valor da passagem em São Paulo. Um dos atingidos pela violência do Estado foi o assistente social Vinícius Boim, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da PUC/SP, com o qual nos solidarizamos publicamente.

Em um município que vem, declaradamente, militarizando seus espaços, o Núcleo São Paulo ABRAPSO (Associação Brasileira de Psicologia Social) vem denunciar a covarde e violenta ação de impedir as manifestações populares, bem como o fato de vários postos da prefeitura (sub-prefeituras, secretarias, como a de Transporte, a CET, o SAMU, Serviço Funerário e Defesa Civil, entre outros) estarem sob o comando de cerca de 40 oficiais da Polícia Militar. Vivenciamos ainda o modelo autoritário militarizado herdado da ditadura ao vermos que direitos e espaços conquistados pela luta democrática estão hoje nas mãos de generais e oficiais da Polícia Militar.

Apoiamos a luta pela mobilidade urbana, para que todos nós tenhamos um transporte público de qualidade, digno, a partir da migração do sistema de transporte privado para um sistema público, bem como a livre manifestação popular!

CONTRA A VIOLÊNCIA DA POLÍCIA MILITAR! CONTRA O COMANDO MILITARIZADO DA PREFEITURA DE SÃO PAULO! PELO DIREITO DA LIVRE MANIFESTAÇÃO POPULAR! PELA REDUÇÃO DA TARIFA DE ÔNIBUS! PELO SISTEMA PÚBLICO DE TRANSPORTE! PELO DIREITO À MOBILIDADE URBANA!

São Paulo, 18 de fevereiro de 2011.
NÚCLEO SÃO PAULO ABRAPSO

Nota de repúdio à truculência policial

Nesta quinta-feira, 17/02/2011, um ato pacífico contra o aumento da passagem do ônibus em São Paulo sofreu uma dura repressão policial. A polícia militar mais uma vez lançou mão de sprays de pimenta, bomba de gás e balas de borracha contra manifestantes desarmados. Desta vez foram ainda mais longe: um militante do PCB foi espancado por 8 policiais e teve seu nariz quebrado, chegando a ficar inconsciente e passando por operação nesta sexta-feira. É com muito pesar que nós acompanhamos a recuperação de nosso camarada, e por horas mobilizamos toda nossa organização para garantir segurança, advogado e nos mantemos informados sobre o estado de saúde de nosso camarada e amigo. Agora, é dever de nossa organização e de todo o movimento ficar atento, pois sabemos que a repressão política não ocorre só nos espancamentos nas ruas. Sabemos que pessoas perdem seus empregos por participar de manifestações, ainda mais quando pela irresponsabilidade de algumas organizações a pessoa torna-se o símbolo do movimento. Não queremos símbolos e não admitiremos nenhuma forma de personalismo em atos que são construídos de maneira coletiva e ampla. É nossa obrigação ainda lembrar que, pela estrutura da polícia militar, tais casos são julgados em foro militar, o que é inaceitável, pois provavelmente os policiais responsáveis sairão impunes por espancar um civil. Por isso, nós, da União da

Juventude Comunista, afirmamos: Não podemos deixar a repressão continuar! Não podemos nos assustar diante da truculência e nem permitir perseguições políticas. Não só continuaremos na luta pelo passe-livre, como estaremos atentos para qualquer sinal de perseguição política não só no local de trabalho de nosso camarada, mas de qualquer um que se manifesta politicamente. A UJC continuará na luta, atuando contra a perseguição política.

Contra toda e qualquer perseguição política!
Contra a truculência da polícia.
Por condições de Trabalho, Estudo e Vida!
União da Juventude Comunista / SP - Ousar Lutar, Ousar Vencer!

Nota de Repúdio Contra Violência por parte do Estado

Em 17/02/2011, foi realizado na cidade de São Paulo ato contra o aumento da tarifa de ônibus e mais uma vez o Estado mostrou sua função social.

O protesto contou com a participação de diversos movimentos sociais e organizações de esquerda, composto por jovens estudantes e trabalhadores.

No primeiro ato (13/01/11), os manifestantes já foram recebidos com toda a repressão do Estado, que viola e nega os direitos civis, usando como ferramenta e órgão opressor a policia com práticas truculentas agredindo com gás lacrimogêneo, balas de borracha, cassetetes, spray de pimenta.

Um jovem assistente social foi brutalmente espancado por vários policiais que continuaram desferindo chutes e golpes de cassetetes quando a vítima estava imobilizada no chão. Ele está hospitalizado tendo passado por uma cirurgia de aproximadamente 7 horas, fora as quase as 24 horas que aguardou no corredor do Hospital Servidor Público para liberação de um leito. Cabe lembrar que enquanto aguardava no corredor do hospital ainda sofria ameaça da policia militar em ser detido.

Devido ao fato ocorrido, o Centro Acadêmico de Serviço Social da PUC-SP (A Retomada...) e o corpo discente repudiam qualquer ato por meio do Estado que viole nossos direitos como também qualquer atitude violenta. Exigimos que seja imediatamente apurados os atos cometidos e que o Estado responda por sua atitude covarde e repressora.

Solidarizamos e apoiamos nosso jovem companheiro Assistente Social, e dizemos: “Basta a este Estado opressor”.

Centro Acadêmico Serviço Social PUC-SP
Gestão “A Retomada...”

Flavio

Serviço Social PUC-SP / Gestão CASS PUC-SP "A Retomada..."/ Núcleo de Relações do Trabalho da PUC-SP 2011 / Militante MESS/ENESSO / Cine Clube Itinerante Gianfrancesco Guarnieri / Blog CASS PUC-SP: www.casspucsp.blogspot.com / Blog pessoal: www.oolhoemeu.blogspot.com / Blog Cine Clube Itinerante Gianfrancesco Guarnieri: www.ccigianfrancescoguarnieri.wordpress.com

 O Curso de Serviço Social da PUC-SP alinha-se a todas as manifestações de repúdio ao espancamento sofrido por Vinicius, assistente social há pouco formado pela PUC-SP, sempre presente nas manifestações populares de luta por direitos. Repudia-se principalmente a ação truculenta e covarde da Policia Militar e a omissão do Prefeito de São Paulo.

Assistentes Sociais são formados para trabalhar sempre em busca de Justiça e Liberdade.
Para Vinicius e Vanessa todas a nossa solidariedade e apoio.

Prof. Isaura Isoldi de Mello Castanho e Oliveira
Coordenadora do Curso de Serviço Social
PUCSP

O repúdio da APROPUC pela violência da PM contra os manifestantes
APROPUC-SP 18.02.11

A APROPUC repudia a violência das forças policiais de São Paulo aos manifestantes que protestavam, dia 17/02, contra o aumento das passagens de ônibus da cidade de São Paulo.

Desde que o prefeito Gilberto Kassab decretou o aumento das passagens de ônibus em 2011, com um índice acima da inflação, vários questionamentos estão sendo realizados por toda a cidade. Não se conhece as reais planilhas de custo e subsídio das empresas operadoras do sistema, que inclusive contém várias denúncias de irregularidades trabalhistas e salários arrochados contra os seus motoristas, cobradores e mecânicos. Oneram o bolso dos moradores de São Paulo ao imporem uma das tarifas mais caras do país atrelada à uma concepção higienista de cidade.

O Movimento pelo Passe Livre está organizando, com o apoio de outras dezenas de entidades, uma série de protestos questionando esse aumento abusivo e a realidade do transporte de São Paulo. No entanto, a reação do poder público é o descaso e a violência. Na quinta-feira, 17/02, presenciamos mais cenas de selvageria e truculência por parte da PM de São Paulo dirigida à centenas de manifestantes que protestavam pacificamente na sede da Prefeitura de São Paulo. Dezenas de pessoas entre manifestantes e transeuntes sofreram violência com tiros de borracha, gás lacrimogênio e golpes de cassetete no Viaduto do Chá. O assistente social da prefeitura de São Paulo Vinícius Boim, estudante de mestrado em Serviço Social da PUC-SP, foi barbaramente agredido pelos policiais, sofrendo inúmeros ferimentos pelo corpo. Mesmo hospitalizado, havia a ameaça de ser preso enquanto aguardava a realização de uma cirurgia de emergência. Repudiamos a violência contra a população de São Paulo. Exigimos a punição dos responsáveis pelas agressões dos policiais contra a população. A violência do Estado é parte da criminalização dos movimentos sociais e da classe trabalhadora que está sendo implementada pela elite dominante.

Repudiamos também a violência contra toda a população pelo abuso do poder econômico nas tarifas de transporte público.

Diretoria da APROPUC-SP

O Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da PUC-SP vem a público informar que o assistente social Vinicius Boim, mestrando do nosso Programa, foi violentamente espancado por policiais militares na manifestação ocorrida ontem contra o aumento das passagens de ônibus em São Paulo , quando tentava defender uma vereadora da truculência policial a que estava sendo submetida.

Vinícius chegou algemado ao Hospital do Servidor Público Municipal, com ferimentos generalizados no rosto e no corpo, e deverá ser submetido a uma cirurgia no nariz.

Professores e alunos do Programa vêm a público manifestar sua indignação frente a este ato de violência injustificada diante de um protesto estudantil, que reivindicava das autoridades públicas municipais melhores condições de vida na cidade de São Paulo, no uso do direito legítimo de livre expressão e manifestação.

Exigimos das autoridades municipais a imediata apuração dos fatos e responsabilização dos policiais agressores que, ao invés de zelarem pela segurança pública e integridade física dos cidadãos paulistanos, fazem uso da violência e da força arbitrárias contra a luta legítima pelo direito de tornar acessível a toda a população bens e serviços públicos de qualidade, como dever do Estado para com a população da cidade.

Profa. Dra. Raquel Raichelis Degenszajn
Coordenadora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da PUC-SP

FACULDADE PAULISTA DE SERVIÇO SOCIAL DE SÃO CAETANO DO SUL se solidariza com o profissional assistente social Vinicius, violentamente espancado pela PM em São Paulo, dia 17/02/2011, motivando sua hospitalização e séria cirurgia.
Repudia a violência, solicitando averiguação do fato e daqueles que assim procederam , não garantindo ao profissional o direito de exercer sua cidadania.

Prezados Colegas

A ABEPSS vem se posicionar repudiando veementemente qualquer forma de violência, expressão da onda de criminalização que a sociedade brasileira vive.
 Lamentavel!

Cláudia Mônica

O Tribunal Popular, repúdia a violência do estado na Manifestação contra o aumento da passagem!
O Tribunal Popular, vem denunciando a violência do estado brasileiro e o agravamento da violência estatal como parte de um processo de uma política higienista que se coloca a serviço dos interesses do capital e contra a maioria da população brasileira. Nesse ultimo período em decorrência dos megaeventos que ocorrerão no país, vem acontecendo um processo de reconfiguração das cidades que atinge perversamente a população empobrecida, que se expressa nas desocupações arbitrárias , na expulsão de trabalhadores informais do centro, na violência contra a população moradora de rua, na perseguição aos artistas de rua e a comunidade LGBTT e no aumento das tarifas de transportes, que impossibilita o deslocamento da população, valorizando cada vez mais os interesses dos empresários.

Ontem (17/02) a prefeitura de São Paulo demonstrou mais uma vez a sua face fascista, frente a uma manifestação ocorrida em frente a sua sede, quando de forma violenta através do aparato policial , reprimiu violentamente o 6º ato contra o aumento, uma manifestação dos diversos movimentos sociais, estudantes e partidos de esquerda e covardemente espancou barbaramente um dos manifestantes (Vinicius), que provocou diversos hematomas e seqüelas a sua saúde.

O Tribunal Popular empenha toda a sua solidariedade ao companheiro Vinicius e repudia veementemente a ação da Policia Militar e da Guarda Civil Metropolitana, que atuaram de forma truculenta, estúpida e a
serviço da ordem burguesa.

Chega da violência do estado!
Fim da política fascista higienista!
Pelo fim da política de remoções de habitações em área de ocupação!
Pela não criminalização dos lutadores sociais e população empobrecida!
Contra a criminalização das comunidades tradicionais e povos originários!
Por uma política de transporte gratuita para a classe trabalhadora!
Pela unificação das lutas populares!
Contra toda forma de opressão!

Tribunal Popular: o estado brasileiro no banco dos réus
Abraço fraterno,
Giva

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL

PAREM O MASSACRE NO HAITI!

Caio Dezorzi

Na mesma semana em que se comemora no Haiti a festa nacional Jean Jacques Dessalines (17/10) – um dos líderes da independência da primeira república negra (1804) – a ONU renova a permanência das tropas militares no país por mais 1 ano. Quando se fala sobre o Haiti, grande parte dos brasileiros logo lembra da canção de Gil e Caetano. Aquela que faz uma analogia: “O Haiti é aqui!”. Mas poucos sabem que já há mais de 4 anos essa analogia tem se tornado assustadoramente cada vez mais real. Não que o Brasil tenha ficado mais parecido – do que já é em alguns aspectos e em certas regiões – com o Haiti. Mas sim que nas favelas do Haiti, como nas do Brasil, homens, mulheres e crianças têm sido atingidos por balas perdidas – e outras nem tão “perdidas” assim – disparadas por armas nas mãos de um agente comum: o soldado brasileiro!

É... isso mesmo! As forças armadas brasileiras, o exército verde e amarelo – anos depois de a luta do povo trabalhador brasileiro ter enterrado a ditadura militar – está reprimindo e assassinando o povo irmão do país mais pobre das Américas. E o mais assombroso: quem enviou as tropas pra lá, a mando de Bush, foi o companheiro presidente Lula! Alguns argumentam que se trata de uma “missão de paz” da ONU. Mas a verdade é outra. Iniciada a partir de um golpe militar no qual tropas estadunidenses raptaram o então presidente eleito do Haiti, a MINUSTAH (Missão das Nações Unidas pela Estabilização no Haiti) nada mais é do que uma ocupação militar repressora que impede o povo haitiano de se manifestar e de lutar por melhores condições de vida, por mudanças, garantindo assim o controle do imperialismo na região.

Assim como planejou e financiou ditaduras militares em toda a América Latina nas décadas seguintes à 2ª Guerra Mundial para conter o avanço das idéias socialistas e reprimir o movimento operário, agora o imperialismo do “Tio Sam” utiliza forças armadas de diversos países – principalmente do Brasil – para fincar suas garras na ilha da América Central cuja história de luta do seu povo já foi exemplo para os povos oprimidos de todo o continente.

Se pudéssemos retroceder no tempo e contar isso ao Lula sindicalista, aquele do final da década de 70, que foi preso pela ditadura, qual seria sua reação? Nos EUA, o povo americano já se habituou a exigir: “Sr. Presidente, traga os soldados pra casa!”. Uma potência imperialista como os EUA precisa promover guerras o tempo todo para defender os interesses econômicos dos capitalistas. Mas quem imaginaria o povo brasileiro tendo que exigir a mesma coisa daquele que foi eleito justamente para defender os interesses dos trabalhadores? A frase: “Lula, traga os soldados pra casa!” parece vinda de um pesadelo de mau gosto! Pois é... a história dá voltas e tudo pode se transformar em seu contrário!

As raízes da histórica luta do povo haitiano

Há mais de 5 séculos, com a chegada dos europeus à América, a segunda maior ilha do Caribe que era chamada de Ayiti ou Quisqueya pelos índios, foi batizada de Hispaniola por Cristóvão Colombo, que estabeleceu ali, em 1493, a primeira colônia na América. Depois do genocídio que em menos de duas décadas reduziu a população nativa a 12% dos cerca de 500 mil indígenas que habitavam a ilha, os espanhóis levaram quase todo o ouro. À medida que os espanhóis abandonavam parte do território onde o ouro ficava escasso, os franceses começavam a ocupá-lo pelo norte da ilha. Até que em 1697, os espanhóis reconhecem a parte ocidental da ilha como colônia da França e os franceses a batizam de São Domingos (Saint-Domingue). Quase sem ouro, os colonizadores franceses apostam na cana-de-açúcar e no café produzidos com mão-de-obra de escravos trazidos da África.

São Domingos torna-se uma potência produtora de açúcar e fonte de altíssimos lucros para o tráfico negreiro. Foi a colônia francesa mais próspera na América e o açúcar de boa qualidade concorria com o que era produzido no Brasil. Já pouco antes de 1770 a colônia exportava 35 mil toneladas de açúcar bruto e 25 mil toneladas de açúcar branco ao ano. Entre 1764 e 1771, a média anual era de 10 mil novos escravos comprados, trazidos pelos navios. No fim dos anos 1780, a produção de açúcar quase dobrou na ilha e de 1787 em diante, eram mais de 40 mil novos escravos comprados por ano! A pequena ilha foi “colonizada” com escravos africanos. E estes recebiam o pior tratamento imaginável por parte de seus “donos” franceses.

“Os africanos que chegavam escravizados eram sobreviventes: os negros enfrentavam uma viagem transatlântica pela Rota do Meio como cargas selvagens de um traficante. Não raro, quase um quarto dos escravos transportados morria dentro dos navios pelas péssimas condições de alimentação e higiene. Quando chegavam aos portos, eram examinados, comprados e queimados com ferro em brasa em cada lado do peito para identificar seu dono. Os maus tratos que se seguiam estimulavam juras de contra-ataque. Algumas delas eram proferidas nos rituais noturnos de vodu, sincretismo dos rituais africanos com o catolicismo.”(Aloisio Milani, Revolução Negra, Revista História Viva nº 51, Jan/2008).

Uma massa numerosa de escravos - que falavam crioulo e francês - foi colocada a trabalhar em toda a extensão da colônia (parte ocidental da ilha). Com cargas desumanas de trabalho, torturas e punições, os escravos se revoltavam. Assim como no Brasil chegaram a se organizar em quilombos. Aloisio Milani escreve:

“Em creoule, dançavam e gritavam canções ameaçadoras, registra o escritor Cyril Lionel Robert James. ‘Ê! Ê! Bomba! Heu! Heu! Canga, bafio té! Canga, mauné de lé! Canga, do ki la! Canga, li!’ A tradução seria algo como: ‘Juramos destruir os brancos e tudo o que possuem; que morramos se falharmos nesta promessa’. Tal qual o Brasil pré-abolicionista, também havia quilombos organizados nas montanhas haitianas para montar uma resistência contra a escravidão. O mais temido foi o líder Mackland. Negro da Guiné, ele era um visionário, grande orador e se dizia imortal com os poderes do vodu. Tinha seguidores aos montes. Em 1758 planejou envenenar a água das casas dos brancos para libertar os escravos. Foi traído, capturado e queimado vivo.” (idem).

Mas não foram apenas os maus-tratos dos franceses contra os escravos que incentivaram as revoltas. As notícias da independência dos EUA em 1776 – inspirada pelas idéias iluministas – e a própria Revolução Francesa em 1789 agitavam o ambiente na ilha caribenha.

Revolução Francesa e luta contra a escravidão

Em 1789, a burguesia francesa que vinha enriquecendo – aí incluída a burguesia marítima que enriquecia com o tráfico de escravos e o comércio do açúcar de São Domingos – enfrenta o poder da monarquia e a grande revolução eclode na França varrendo o feudalismo do mapa. Mas os princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que inspiraram a revolução francesa não podiam ser empregados na colônia de São Domingos, pois contrariariam os interesses econômicos dos senhores de escravos. Os colonos de São Domingos são questionados pelos franceses em plena revolução. A partir disto a luta dos escravos de São Domingos se torna intrínseca à luta pela revolução na França.

Após a queda da Bastilha, com o desenvolvimento da revolução na França, em 1790 é permitida a instituição de uma assembléia colonial em São Domingos, dividida entre “latifundiários, brancos pobres, mulatos livres e escravos”. Mas nos debates prevalecia o poder dos latifundiários. Só em 1791, na assembléia constituinte da França, é que foi aprovada a igualdade de direitos entre todas as pessoas em São Domingos.

A notícia da decisão chegava aos poucos aos ouvidos dos escravos na ilha. Os latifundiários não a aceitaram e contra-argumentavam que negros e mulatos não eram pessoas e, logo, não podiam ter direitos. Um clima revolucionário percorria todas as fazendas. E foi Boukman – um capataz e sacerdote de vodu – que liderou uma revolta que ateou fogo em todas as fazendas da planície do norte de São Domingos, matando os latifundiários.

Os escravos do sul e do leste espanhol da ilha somam-se aos rebeldes. A repressão aumenta e Boukman é morto em combate, mas a revolta não para! A cada dia aumentava o número de insurgentes. Passaram de 100 mil homens e essa quantidade propiciou um salto de qualidade levando a luta a amadurecer e levantar a bandeira pela independência da colônia.

Luta pela independência

Depois de Boukman houve outros líderes, mas o que mais se destacou foi Toussaint L’Ouverture, um ex-escravo que teve acesso à literatura política e se revelou um grande estrategista militar. Ele unificou os grupos de rebeldes e organizou um exército capaz de derrotar tropas européias. Entretanto inclinava-se a conciliar com os latifundiários, que por sua vez, recusavam qualquer acordo de paz. A França envia então 3 comissários com 6 mil soldados para conter as rebeliões dos escravos e resolver a situação.

Mas, enquanto os comissários tentavam negociar um acordo, a nova república francesa declara guerra à Inglaterra. A guerra envolve as colônias européias e o exército de Toussaint defende a ilha, combatendo tropas francesas, inglesas e espanholas.

Em 1794, a república francesa declara a abolição da escravidão em todos os seus territórios e o exército de Toussaint, aliado aos franceses, expulsa os ingleses e espanhóis da ilha (inclusive da parte espanhola). Com isso, Toussaint foi nomeado pela metrópole o Chefe do Exército de São Domingos. Em 1801, São Domingos proclamou uma Constituição, tornando-se província autônoma.

Porém, em 1802, Napoleão Bonaparte dá início à sua jornada pela dominação de tudo e de todos. Já com o domínio da Louisiana, ao sul dos EUA, viu na ilha de São Domingos um ponto-chave para a expansão do império francês no Novo Mundo e enviou uma armada para retomar o domínio da colônia: 47 mil homens sob o comando do General LeClerc.

Toussaint combateu as tropas napoleônicas, mas seu instinto conciliador o traiu de novo: o líder negro fez um acordo de paz e se deixou levar, preso, até a França, na tentativa de negociar. Acabou morto numa prisão em Forte Joux, nos Alpes.

Mas a luta pela independência continuou. Os ex-escravos se organizam sob a liderança de Jean Jacques Dessalines e derrotam as tropas napoleônicas de LeClerc em 28 de Novembro de 1803. No dia 1º de Janeiro de 1804, Dessalines proclama a independência da colônia (da ilha inteira) que passa a se chamar Haiti, em homenagem ao antigo nome indígena da ilha que significava “ilha de montanhas altas”.

A derrota das tropas francesas fez com que Napoleão vendesse Louisiana a preços baixos e evitou sua possível expansão nas Américas. Gerou grande impacto no mercado do tráfico de escravos e no preço do açúcar. É... a história dá voltas: a burguesia que tomou o poder na França inspirou as revoltas no Haiti; e a revolução no Haiti acabou com uma das principais fontes de renda da burguesia francesa.

Exemplo de luta para os povos

A luta do povo haitiano que se desenvolveu de 1791 a 1803 foi e é considerada a única revolta de escravos bem-sucedida desde a Antiguidade Clássica. Ganhou grande repercussão no mundo todo e representou um gigantesco ponto de apoio para todos que lutavam contra a escravidão. Os senhores de escravos em toda a América ficavam preocupados com a repercussão da vitoriosa revolução negra. Nos EUA, os proprietários de terra se interessavam mais pelos desenvolvimentos na ilha do caribe do que na guerra entre as potências européias.

Entre os escravos e abolicionistas o interesse não podia ser menor. No Brasil, há registros de milicianos mulatos no Rio de Janeiro que usavam retratos de Dessalines. Os que lutavam contra a escravidão e o racismo passaram a ser rotulados de “haitianistas” por algum tempo no Brasil:

“No período da Regência (1831-40), o termo ‘haitianismo’ foi usado como um epíteto contra jornais que supostamente representavam os interesses da população de cor livre e abordavam persistentemente a questão racial.” (Stuart Schwartz, Segredos Internos – Engenhos e escravos na sociedade colonial).

Dois séculos de mais exploração e repressão

Os imperialistas não podiam deixar barato o que os haitianos fizeram. Desde que os ex-escravos derrotaram as tropas napoleônicas, fazem o povo pagar. O presidente dos EUA Thomas Jefferson (1801 a 1809) – defensor da liberdade e proprietário de escravos – disse que do Haiti vinha o mau exemplo e que a peste devia ser confinada naquela ilha!

"Em 1804, herdaram uma terra arrasada pelas devastadoras plantações de cana-de-açúcar e um país queimado pela guerra feroz. E herdaram “a dívida francesa”: a França cobrou a humilhação infringida a Napoleão Bonaparte. Logo depois de nascer, o Haiti teve que se comprometer a pagar uma indenização gigantesca pelo dano que havia feito libertando-se. Esta expiação do pecado da liberdade lhe custou 150 milhões de francos em ouro. O novo país nasceu estrangulado por essa corda amarrada no pescoço: uma fortuna que atualmente equivaleria a 21,7 bilhões de dólares ou a 44 orçamentos totais do Haiti de nossos dias. Muito mais de um século levou o pagamento da dívida, que os juros de usura iam multiplicando. Em 1938 cumpriu-se, finalmente, a redenção final. Nesse momento o Haiti já pertencia aos bancos dos Estados Unidos." (Eduardo Galeano, A Maldição Branca, 2004).

Depois da independência de 1804, os habitantes da ilha vivem muitos conflitos. A pressão externa é muito grande. A república fica instável. Dessalines se proclama imperador e é assassinado em 1806. O país se divide em dois e os espanhóis retomam o leste da ilha. Conflitos se seguem e em 1822, o presidente da república do Haiti, Jean-Pierre Boyer, ocupa militarmente o lado espanhol da ilha. Isso só dura até 1844 quando este é derrubado e é declarada a independência da República Dominicana (que ocupa dois terços da parte leste da ilha). Em 1861 os espanhóis retomam o controle do lado leste da ilha e em 1865 é proclamada a independência da República Dominicana de novo.

O povo haitiano passa por décadas de terríveis dificuldades econômicas. Apesar da dívida que seguia pagando à França, o país investe no aumento da produção agrícola, mas esse processo lhe custa um grande endividamento externo, especialmente com capitais norte-americanos. Essa dependência cresceu até o momento em que os EUA, sob a justificativa do não-cumprimento dos contratos, invadem o Haiti em 1915.

"A primeira coisa que fizeram foi ocupar a alfândega e o escritório de arrecadação de impostos. O exército de ocupação reteve o salário do presidente haitiano até que se resignou a assinar a liquidação do Banco da Nação, que se converteu em sucursal do City Bank de Nova York. O presidente e todos os demais negros tinham a entrada proibida nos hotéis, restaurantes e clubes exclusivos do poder estrangeiro. Os ocupantes não se atreveram a restabelecer a escravidão, mas impuseram o trabalho forçado para as obras públicas. E mataram muito. Não foi fácil apagar o fogo da resistência. O líder guerrilheiro, Charlemagne Péralte, foi pregado em cruz em uma porta e exibido em praça pública como advertência."(idem).

O saldo do regime militar sob comando estadunidense que durou até 1934 é de mais de 10 mil haitianos mortos. A partir da década de 30 o imperialismo estadunidense trata as ilhas da América Central como quintal de exploração de mão-de-obra barata, contrabando e prostituição. Mesmo depois de 1934, a influência norte-americana continuava forte no Haiti. Apesar da saída militar do país, mantiveram uma polícia nacional fiel às suas ordens.

Até que, após sucessivos golpes militares, em 1957, François Duvalier – um médico mais conhecido como Papa Doc – assumiu a presidência sob o apadrinhamento dos EUA e implantou novo regime de terror massacrando todos que se contrapunham à sua vontade. A oposição que sobrou era nitidamente controlada por Papa Doc.

Na mesma época em que a ilha vizinha, Cuba, passava por uma revolução liderada por Fidel Castro e Che Guevara, Papa Doc reprimia qualquer manifestação do povo haitiano. Treinou milícias armadas chamadas de Tontons Macoutes (Bichos-Papões), que promoviam chacinas, abusos sexuais e controlavam o contrabando de armas e tráfico de drogas na região. Um regime cruel com o povo pobre e submisso aos interesses do imperialismo estadunidense.

Assim como no Brasil, na década de 60, muitos haitianos de esquerda se organizam na igreja católica. Nessa época Papa Doc extermina sistematicamente todos com “influência cubana” e persegue a igreja católica.

O regime de Papa Doc era a expressão da degeneração de uma sociedade submetida a todos os males do capitalismo. Sob patrocínio de Washington, Papa Doc montou um enorme sistema comercial ilegal que transformou o Haiti em rota obrigatória do narcotráfico entre Colômbia e EUA. No fim de seu governo o Haiti já era o país mais pobre das Américas, com a maior taxa de analfabetismo e mortalidade infantil. Morto em 1971, Papa Doc foi substituído por seu filho, o Baby Doc.

Baby Doc impôs um brutal sistema de super exploração do trabalho, que beneficiou largamente as multinacionais norte-americanas e também a “raquítica” burguesia haitiana. O povo trabalhador reage. Baby Doc decreta Estado de Sítio, até que, em 1985, protestos populares se intensificam e Baby Doc foge para a França num avião da Força Aérea Norte-Americana, deixando em seu lugar uma junta chefiada pelo General Henri Namphy.

Tem início uma disputa entre os militares pelo comando do Estado e do narcotráfico. Uma série de golpes se sucede até que sob forte pressão popular é aprovada uma nova Constituição e são convocadas eleições diretas para presidente, num tipo de sistema parlamentarista, para Dezembro de 1990.

As origens da crise atual

Com uma campanha de denúncia da dominação imperialista no Haiti, Jean Bertrand Aristide, ex-padre católico, defensor haitiano da Teologia da Libertação, foi eleito presidente com enorme apoio popular, 67% dos votos, tomando posse em Fevereiro de 1991. Líder de um movimento popular chamado Lavalas, nomeou um primeiro-ministro de sua confiança. Aristide estabeleceu como eixos de seu governo o combate à corrupção e ao narcotráfico e a luta contra a pobreza. Sete meses depois sofreu um golpe militar, liderado pelo General Raoul Cedras e patrocinado pela CIA.

Exilado nos EUA, Aristide busca ajuda internacional. É a oportunidade de ouro para o imperialismo voltar ao comando do Haiti desde que Baby Doc fugiu e estabelecer um controle militar direto no transporte das drogas, contendo a insatisfação popular com Aristide. O governo dos EUA propõe apoiar a volta de Aristide ao poder desde que este aceite e apóie a presença de tropas estadunidenses para “estabilizar o país”.

O ex-presidente americano Jimmy Carter se apresenta como “mediador” e faz de conta que obtém um acordo com Cedras: em troca de anistia os militares deixam o poder, o exército haitiano é dissolvido e tropas norte-americanas entram no país em Setembro de 1994 para “assegurar o retorno à legalidade”. Aristide reassume a presidência em Outubro escolhendo Smarck Michel como seu primeiro-ministro. Em Abril de 1995, as tropas dos EUA são substituídas por soldados da ONU.

Aristide é recebido pelo povo haitiano com grandes manifestações de boas vindas. Em Junho de 1995, nas eleições, René Préval, o candidato do movimento Lavalas, apoiado por Aristide – e também pela Casa Branca – é eleito presidente com 87,9% dos votos. O povo queria Aristide, porém a constituição do Haiti não permite a reeleição para um mandato consecutivo e Préval carrega os votos do antecessor. Mas não corresponde às expectativas do povo. Ele mantém a presença das tropas da ONU e nomeia para o posto de primeiro-ministro um economista alinhado com Washington, chamado Rony Smarth.

Em Março de 1996, Préval anuncia plano de privatizar todas as estatais e serviços públicos, desencadeando greves e grandes manifestações de protesto. Em Agosto do mesmo ano, o Lavalas é responsabilizado pelo assassinato de dois líderes burgueses. A situação fica instável e a população é reprimida pelas tropas da ONU. Aristide racha com Préval e cria o movimento Família Navalas, anunciando que será candidato à presidência em 2000.

Em Janeiro de 1997, a República Dominicana decide expulsar os imigrantes ilegais haitianos, mas interrompe o envio diante dos protestos do povo haitiano à chegada dos primeiros 16 mil deportados. Os protestos de rua ganham força e possibilitam a formação de um movimento nacional contra a imposição de um programa de cortes de gastos públicos acordado entre o primeiro-ministro Smarth e o FMI. Centenas de milhares vão às ruas. A crise institucional se acentua e menos de 10% dos eleitores votam nas eleições legislativas e municipais de Abril de 1997.

Nessa época a população do Haiti já chega a quase 8 milhões de habitantes. O desemprego atinge 70% da população ativa. A fome se alastra nas zonas rurais. Uma greve geral dos professores fecha as escolas de todo o país! O povo trabalhador haitiano tinha as condições de efetuar uma insurreição vitoriosa e a tomada do poder em 1997. Mas, além da presença das tropas militares da ONU, lhe faltava um partido revolucionário. A fragmentação política é impressionante. Há mais de uma centena de partidos e organizações políticas no Haiti. Com o recente racha entre Préval e Aristide e as traições do Governo Préval, o Movimento Lavalas que teria maior apoio popular não consegue nem esboçar uma tentativa de ocupar este papel.

O primeiro-ministro Smarth renuncia em Junho, porém continua no cargo até Outubro. Em Novembro, o presidente Préval indica Hervé Denis para o cargo de primeiro-ministro. A ONU retira as tropas militares e coloca uma Polícia Civil das Nações Unidas (MIPONUH) para conter a onda revolucionária e profissionalizar a Polícia Nacional do Haiti – única força repressora do Estado, já que o exército foi dissolvido em 94. Essa missão da ONU permanece no Haiti até Março de 2000.

Um golpe preparado 4 anos antes

Aristide foi eleito presidente novamente nas eleições de Dezembro de 2000 num processo conturbado. Mesmo ele tendo demonstrado no passado que diante de pressões segue fielmente às ordens do imperialismo, ele representa a vontade de mudanças de milhões de haitianos e por isso a burguesia e os senhores de Washington não confiam nele.

Uma forte oposição de latifundiários, empresários, paramilitares, grupos narcotraficantes e ONGs acusam Aristide de ter manipulado as eleições parlamentares do início do ano e por isso boicotam as eleições presidenciais. Na verdade sabiam que não teriam forças para vencer Aristide que contava com grande apoio popular e não prometia dar continuidade ao governo entreguista de Préval. Sem adversários, Aristide foi eleito com baixa votação. Toma posse em Março de 2001. Entretanto dessa vez parece que Washington está do lado da oposição e o Banco Mundial corta a ajuda anual de US$500 milhões que enviava ao governo anterior.

A política econômica aplicada por Aristide foi ambígua, pois ao mesmo tempo em que fazia críticas abertas ao FMI, seguia sua cartilha à risca. O desemprego aumentou. A miséria e a fome também. A epidemia de AIDS atingiu números alarmantes. Sua popularidade caiu. Sem dinheiro para programas sociais, Aristide passa a exigir da França a devolução de 22 milhões de euros como compensação por riquezas repassadas pelo Haiti no decorrer do século XIX.

Em Janeiro de 2004, as comemorações dos 200 anos de independência do Haiti se transformam em grandes manifestações de rua por comida. Os empresários haitianos organizam greves e grupos armados começam a atacar os apoiadores de Aristide nas ruas. A imprensa noticia conflitos com dezenas de mortos. O Governo dos EUA se pronuncia dizendo que Aristide tinha que estabilizar seu país e garantir a democracia. A oposição armada exige a renúncia de Aristide ameaçando um golpe. Grupos de apoiadores de Aristide resistem, mas a oposição tinha muito mais recursos. Aristide diz que não renuncia e que não abandonará o Palácio do Governo mesmo que tenha que pagar com sua vida. O povo sai às ruas.

Como o Haiti não tem mais exército (dissolvido em 1994) isso dificulta aos opositores tomar o poder militarmente como estavam habituados no passado. Foi então que, em 29 de Fevereiro de 2004, fuzileiros navais estadunidenses raptam o presidente eleito do Haiti e declaram que ele havia renunciado. Um governo interino é nomeado pelos americanos e tropas francesas e americanas reprimem as manifestações pró-Aristide, até que em 1º de Junho de 2004 chegam as tropas da ONU, comandadas pelo exército brasileiro.

A Missão da ONU e o Governo Lula

O golpe de 2004 no Haiti chega a ser mais escandaloso do que foi o golpe de 2002 na Venezuela em que Chávez ficou seqüestrado por 3 dias. Não foi um golpe de militares haitianos patrocinados pelos EUA. Foi um golpe executado diretamente por militares estadunidenses! E no contexto de então, em que Bush se via confrontado com a maior mobilização global da história, de milhões de pessoas nas ruas, em todos os cantos do mundo, contra a guerra do Iraque, Washington não podia deixar parecer que estava começando outra guerra na América Central, numa ilha a duas braçadas de Cuba e da Venezuela!

Era importantíssimo para os EUA que a ocupação militar no Haiti tivesse a aparência de uma “missão de ajuda”, uma “missão de paz”. Para isso precisavam que um país não-imperialista, de “ficha limpa”, chefiasse as tropas da ONU. E o Brasil caiu como uma luva, pois tinha como presidente recém-eleito uma figura respeitada pelos movimentos de esquerda em todos os países: Lula.

Lula, que já vinha seguindo à risca a orientação de Washington no Brasil (alianças com a burguesia, contra-reforma da previdência, subsídios ao latifúndio, aumento do superávit primário para o pagamento da dívida externa, etc.) não pensa duas vezes. E argumenta que isso ajudará o Brasil a conquistar um acento permanente no genocida Conselho de Segurança da ONU!

Os trabalhadores brasileiros não elegeram Lula para conseguir uma vaga pro Brasil num conselho que decide qual país deve ser invadido militarmente, muito menos para participar de uma dessas invasões militares! Mas Lula é inteligente e faz forte propaganda sobre a “missão de paz” da ONU. Organiza inclusive um jogo amistoso da seleção brasileira contra a seleção haitiana no Haiti em Agosto de 2004. É chamado de “o jogo da paz”. O Brasil vence por 6 a 0.

Nós organizamos abaixo-assinados antes e depois do envio das tropas. Milhares de assinaturas dirigidas a Lula dizendo: “Não envie as tropas!”; “Retire as tropas!”. Mas o governo não deu bola. E não dará bola até que haja uma exigência das massas. Voltaremos a isso mais adiante.

A MINUSTAH (Missão das Nações Unidas pela Estabilização no Haiti) conta com a participação de tropas dos seguintes países:

Efetivos militares: Argentina, Benim, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Croácia, Equador, Espanha, França, Guatemala, Jordânia, Marrocos, Nepal, Paraguai, Peru, Filipinas, Sri Lanka, Estados Unidos e Uruguai.

Forças policiais: Argentina, Benin, Burkina Faso, Camarões, Canadá, Chade, Chile, China, Colômbia, Egito, El Salvador, França, Granada, Guiné, Jordânia, Madagascar, Mali, Maurícia, Nepal, Níger, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Romênia, Federação Russa, Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Espanha, Togo, Turquia, Estados Unidos, Uruguai, Vanuatu e Yêmen.

Notem que além do Brasil, há tropas de outros países da América do Sul cujos presidentes foram levados à vitória eleitoral como expressão da luta por mudanças das massas trabalhadoras em seus países: Bolívia de Evo Morales, Chile de Bachelet, Paraguai de Lugo, Uruguai de Vasquez e Equador de Rafael Correa!

Todos cumprindo um papel asqueroso a mando do imperialismo, enviando tropas, usando recursos materiais e humanos para reprimir e assassinar o povo pobre e sofrido do Haiti. Além do cubano Fidel, apenas Chávez se posicionou contra a ocupação do Haiti. Mas não é pra menos, há uma revolução em curso na Venezuela!

No início a ONU anunciou uma missão de 6 meses. Depois foi prorrogada até que houvesse eleições. Depois de muitos adiamentos, houve eleições em 2006, mas Aristide – o presidente de fato eleito pelo povo, exilado na África do Sul – estava e permanece impedido de regressar ao Haiti! Préval acabou eleito novamente.

Agora já há presidente “eleito” – imposto. E as tropas continuam lá! A ONU argumenta que sem as tropas lá as gangues de narcotraficantes e seqüestradores afundariam o país no caos novamente. Mas isso é falso!

Fora tropas do Haiti e também dos morros do Rio

São incontáveis os mortos, assassinados pelas tropas da ONU no Haiti nesses mais de 4 anos de ocupação. Se a ONU quisesse mesmo combater os traficantes deveria começar prendendo seus patrocinadores nos EUA e na Colômbia, e não enviando soldados para atirar a esmo nas favelas do Haiti.

De novo vem à cabeça a canção de Gil e Caetano. O Haiti é aqui? Nos morros e favelas do Brasil a polícia também não mata o negro pobre sob o pretexto de combater o tráfico? Não é à toa que o BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) da PM do Rio fez um convênio com o exército brasileiro para “trocar experiências de combate” com as tropas brasileiras em missão no Haiti e que alguns contingentes, antes de serem enviados ao Caribe, passaram por semanas de treinamento na “favela do BOPE”, no Rio.

E mesmo que fosse real a intenção da ONU em combater o narcotráfico, não é com tropas que a questão será resolvida. Combater o efeito em vez da causa, não resolve nada! A situação no Haiti é similar à situação do Rio e de qualquer outro canteiro de pobreza desenvolvido pelo capitalismo:

“Mesmo que o BOPE acabasse com o tráfico nas 700 favelas do Rio de Janeiro, o desemprego continuaria, a falta de políticas públicas de habitação, educação, saneamento, saúde, lazer, recreação e cultura, continuariam. E portanto, os burgueses que investem no ramo das drogas ilícitas continuariam encontrando terreno fértil para o subemprego do tráfico. E em 6 meses as 700 favelas do Rio estariam tomadas pelos traficantes novamente, que são apenas vítimas deste ramo dos negócios burgueses.” (Caio Dezorzi, Tropa da Elite e para a Elite, Jornal Luta de Classes nº 7, Nov/2007).

Soldados brasileiros que voltaram do Haiti deram entrevista para o Jornal Folha de SP onde afirmaram que o nome “missão de paz” dava uma impressão errada do que estava acontecendo no Haiti. Um dos soldados identificado como “S”, explica:“Até parece que este nome é para tranqüilizar as pessoas no Brasil. Na verdade, não há dia em que as tropas da ONU não matem um haitiano em troca de tiros. Eu mesmo, com certeza, matei dois. Outros, eu não voltei para ver.” (Folha de SP, 29/01/2006).

E o mais revoltante: desde 2005 as tropas da ONU têm chacinado haitianos em represália explícita por se manifestarem pela retirada das tropas e pelo retorno de Aristide – Titid, como o povo pobre o chama. Manifestações com dezenas de milhares de haitianos são reprimidas a bala pelas forças policiais e tropas da ONU. Quando as manifestações são muito grandes, no dia seguinte as tropas da ONU costumam fazer incursões em Cité Soleil – com 300 mil moradores é a maior favela na periferia da capital do país, Porto Príncipe – e atiram por horas sem parar contra as casas dos moradores, matando homens, mulheres e crianças. Só não matam idosos porque estes são raros no Haiti. A expectativa de vida é de 49 anos!

Nessas incursões – chamadas de “punições coletivas” por alguns jornalistas presentes no Haiti – os soldados atiram de dentro de seus carros blindados, semelhantes aos “caveirões” usados pelo BOPE nas favelas do Rio, e também de helicópteros. Muitas pessoas, principalmente crianças, são atingidas na cama, enquanto dormem, por balas de calibre pesado que atravessam os telhados de suas habitações.

Depois de contar e chorar seus mortos, o povo pobre de Cité Soleil volta às ruas protestando e é reprimido de novo! A situação de um povo desarmado enfrentando forças externas tão poderosas como essas, pode aniquilar física e psicologicamente toda uma geração.

Os que buscam se organizar ou participar de movimentos de resistência são mortos ou presos sem motivo, ilegalmente. Depois de presos sofrem torturas e geralmente são “desaparecidos” pela Polícia Nacional. Já são incontáveis os presos políticos e ativistas desaparecidos.

A situação no Haiti ocupado

Como se não bastassem as mortes causadas pelas tropas estrangeiras e pela Polícia Nacional, os haitianos ainda correm muitos outros riscos de vida. Há também as milícias armadas haitianas que controlam o tráfico de drogas e o contrabando de armas. Apesar de várias terem sido desmontadas ou exterminadas, as que restaram são submissas à Polícia Nacional e o ambiente de miséria é extremamente fértil para a proliferação do tráfico de drogas e ações criminosas diversas.

Há a fome: Quem não ficou chocado ao ver imagens na TV dos biscoitos de barro que os haitianos comem? Quando não há comida os haitianos buscam fazer como as plantas, retirando os nutrientes direto do solo! Não é difícil conhecer alguém no Haiti que tenha na família uma criança que tenha morrido de fome. Mais de 80% da população vive abaixo da chamada “linha da pobreza”. E tudo ainda pode piorar! Com a crise mundial de aumento dos preços dos alimentos, no último mês de abril, o saco de 23 quilos de arroz passou de 35 para 70 dólares no Haiti, enquanto o milho, o feijão e o óleo de cozinha registraram aumentos de 40%. Isso provocou protestos de massa, com saques a depósitos de alimentos e barricadas com pneus queimados nas ruas. As tropas da ONU reprimiram os manifestantes famintos com balas. Hoje 80% do arroz consumido no Haiti é comprado dos EUA com altas taxas de importação.

Há doenças: Já chegam a 300 mil os haitianos portadores de HIV (4% da população). Outras epidemias como malária e tuberculose também aterrorizam os mais pobres. A mortalidade infantil é de 57 a cada mil crianças. A mortalidade materna é de 630 a cada cem mil partos. Faltam remédios elementares nas farmácias – e faltam farmácias. Faltam médicos, recursos e estrutura nos hospitais – e faltam hospitais. Na maioria das comunidades não há esgoto encanado nem coleta de lixo. O índice de contaminação da água que a população bebe é muito elevado. A falta de higiene e saneamento agrava os problemas de saúde e aumenta o risco de contração de muitas doenças que poderiam ser facilmente prevenidas.

Há a super-exploração do trabalho: segundo o conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), Aderson Bussinger Carvalho, a ocupação militar internacional sob comando do Brasil “tem interesses de explorar a mão-de-obra haitiana através de zonas francas". As jornadas de trabalho muitas vezes ultrapassam as 12 horas diárias e o salário mínimo foi dobrado este ano, passando a um valor correspondente a 120 dólares mensais. Empresas de capital americano, canadense e dominicano fazem a festa. Sindicatos haitianos denunciam o aumento de maquiladoras no país. Até o ministro Celso Amorim andou conversando com a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, sobre indústrias brasileiras que se interessaram em criar unidades no Haiti para exportar produtos aos Estados Unidos. Isso explica a comitiva de empresários que o presidente Lula levou ao Haiti em sua última visita. Entretanto os operários fabris somam apenas 3% dos trabalhadores ativos no Haiti. A grande maioria está nos setores informais e trabalhando no campo, onde a precarização do trabalho é ainda pior. Não raro há mortes no campo por excesso de trabalho.

Há os furacões: Imagine todos esses problemas batidos num liquidificador. Freqüentemente furacões e tempestades tropicais se formam no Atlântico e avançam em direção ao sudeste dos EUA. No caminho passam pelas Antilhas. Mesmo quando não acertam o Haiti em cheio, só de passarem próximos à costa já causam um forte estrago, provocando elevação do nível do mar e enchentes dos rios. Em 2004, Gonaives, principal cidade da região norte, atingida pelo furacão Jeanne, foi soterrada por uma enxurrada de lama de 3 metros de altura: quase 3 mil mortos! Isso ocorreu logo após a ocupação militar da ONU. O governo interino da época bateu todos os recordes de corrupção: os sobreviventes – que tinham perdido todos os seus bens – tinham que pagar (!) pela carteira de identidade que dava direito à ajuda aos desabrigados. Muitas ONGs receberam grandes quantias de dinheiro de ajuda humanitária internacional, mas ninguém sabe onde esse dinheiro foi parar. Neste ano o país foi atingido por mais 4 tempestades (Hanna, Gustav, Ike e Fay) provocando grande devastação e centenas de mortes. O governo haitiano pede que as doações sejam feitas diretamente ao governo e não através das ONGs. Na imprensa circulam denúncias de desvio de alimentos que seriam entregues para os desabrigados que já passam de 20 mil haitianos.

"O furacão Jeanne devastou o Haiti em 2004, oito meses após o golpe que derrubou Jean-Bertrand Aristide. Gerard Latortue [o primeiro-ministro do governo provisório], o cabeça da ditadura da ONU e natural de Gonaives, recebeu dinheiro de todo o mundo para ajudar a reconstruir a cidade. Infelizmente, as vítimas receberam poucos benefícios deste dinheiro. Gonaives situa-se abaixo do nível do mar, mas diques nunca foram construídos; muitas estradas ainda sequer foram reparadas. Os poucos resultados obtidos com dinheiro da ajuda internacional só trazem a convicção de que, em Gonaives, os amigos de Latortue e ONGs corruptas simplesmente embolsaram o dinheiro. (…) O presidente René Préval, um nativo do estado de Artibonite [onde Gonaives é a capital], apelou à comunidade internacional para ajudar. O tumulto sobre sua última indicação para primeiro-ministro terminou. O Senado aprovou Michele Duvivier Pierre-Louis como primeira-ministra. Auxílio financeiro vai chegar. A questão é quem irá se beneficiar com ele. O povo de Gonaives está compreensivelmente pessimista após a experiência com o furacão Jeanne." (Wadner Pierre, HaitiAnalysis.com, 9/9/2008).

O povo haitiano pede ajuda! Precisa de comida, remédios, infra-estrutura, empregos, hospitais, escolas! Mas a ajuda chega em forma de balas que atingem os peitos e cabeças das crianças. Parece que está sendo seguida à risca a orientação de Thomas Jefferson: “confinar a peste na ilha”.

A nova primeira-ministra

Desde Abril a república parlamentarista do Haiti – ocupada por tropas da ONU – estava sem primeiro-ministro. O último mandatário, Jacques Edouar Alexis, caiu com a crise do aumento dos preços dos alimentos e a onda de protestos que se seguiu por todo o país. Desde então, o presidente Préval indicou outros nomes que foram rejeitados pelo parlamento.

Finalmente o nome da economista Michele Duvivier Pierre-Louis foi ratificado no dia 5 de Setembro, logo após os furacões Hanna e Gustav terem passado. Atualmente professora na Universidade Quisqueya, em Porto Príncipe, Michele iniciou sua militância nas missões de alfabetização da igreja católica dos anos 80. Fez parte do Lavalas e do primeiro governo de Aristide em 1991. Depois passou a ser diretora-executiva da ONG Fondation Konesans ak Libète (Fokal), financiada por entidades da União Européia e também pelo mega-especulador George Soros.

Apesar de sua origem militante, sua passagem pela Fokal mostra bem que interesses defende. Ela costumava ser bem crítica às intervenções militares da ONU, mas hoje não defende a retirada das tropas.

A crise mundial e a ajuda aos pobres

O Haiti tem uma dívida externa de quase 2 bilhões de dólares. Para pagar os juros dessa dívida o governo haitiano precisa economizar na saúde, educação, saneamento, etc. E se não pagar, vocês lembram o que aconteceu em 1915!

Por conta da devastação causada pelos furacões o governo tem pedido o perdão da dívida, mas o pedido foi negado.

É aí que caem todas as máscaras dos capitalistas e dos defensores deste sistema podre. Todos estamos acompanhando o desenvolvimento da crise mundial: em poucos dias os governos capitalistas e seus bancos centrais doaram a um punhado de banqueiros trilhões de dólares de dinheiro público! Com esse dinheiro seria possível alimentar para sempre milhares de Haitis inteiros. E pra que precisamos de ONGs? Há dinheiro e recursos para toda a população da Terra!

Para salvar meia dúzia de banqueiros: trilhões de dólares! Para livrar da fome quase 1 bilhão de seres humanos no planeta: milhares de ONGs! Este é o presente do sistema que não reserva nenhum futuro pra humanidade.

Distribuir a riqueza do mundo permitiria transformar a fome em assunto dos livros de história. Mas pra isso é necessário tirar do poder a classe capitalista, planificar a economia sob controle da classe trabalhadora. Sim! Uma revolução socialista. Esta é a saída. A única!

Há saída! Lutar pelo socialismo!

Apesar de todas as dificuldades, de alguma forma os haitianos encontram forças para levantar a cabeça e gritar! Para levantar os braços e com os punhos cerrados, marchar! Lutam esses homens e mulheres massacrados! E como lutam! E continuarão lutando, pois a história é deles! A história é nossa! Dos que lutam! A luta de classes é o motor da história e a história não vai acabar antes que vençamos!

Assim como os haitianos fizeram no fim do século XVIII, por todas as partes do mundo os povos dão o exemplo. E é na América Latina onde a luta está mais avançada. Algumas braçadas pelo mar do Caribe ao sul do Haiti, chegamos às praias da Venezuela, onde uma verdadeira revolução está em curso.

A defesa da revolução cubana e o aprofundamento da revolução na Venezuela e em toda a América Latina são fundamentais para a luta do povo haitiano. Pode-se dizer que, da mesma forma que no fim do século XVIII a luta pela independência haitiana estava intrinsecamente ligada ao desenvolvimento da revolução francesa, hoje, a luta pela autodeterminação do povo haitiano está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento da revolução na Venezuela.

É a teoria da revolução permanente: as conquistas democráticas mais elementares nos países atrasados estão invariavelmente associadas à luta pela tomada do poder de Estado pela classe trabalhadora. Não é possível a luta pela soberania do Haiti desconectada da luta pelo socialismo.

Para fazer frente a todos os problemas do Haiti, que em certo aspecto são comuns a todos os países atrasados do mundo, é preciso planificar a economia, socializar a propriedade dos meios de produção e estabelecer a democracia dos conselhos de operários e camponeses. Com o socialismo mundial poderemos planejar a produção e a distribuição de tudo, de tal forma que todos poderão viver sem qualquer necessidade deixar de ser atendida. Até acabar de vez com o Estado e estabelecer uma sociedade sem classes: o comunismo! A fome não existirá mais, nem as guerras. Não haverá mais exploração.

Mas para chegar lá é preciso começar lutando. E para lutar é preciso nos organizar. No Haiti, para os trabalhadores lutarem e se organizarem é preciso restabelecer minimamente os direitos democráticos. Urge a retirada da ditadura militar instalada pela ONU!

Uma tarefa imediata

Nessa última Terça, 14/10, o Conselho de Segurança da ONU decidiu por unanimidade prorrogar a permanência das tropas no Haiti até Outubro de 2009 (todo ano em Outubro eles prorrogam por mais 1 ano), incluindo planos de ação pelo menos até a posse do novo presidente em 2011.

O principal argumento utilizado foi que o país continua instável “conforme foi demonstrado nos tumultos de Abril”. Ou seja, a ONU admite que a ocupação serve para reprimir as manifestações populares por mudanças e melhorias.

No Brasil estamos desde antes do início da ocupação exigindo que Lula não envie soldados; que traga os soldados de volta. Mas o máximo que conseguimos foram algumas milhares de assinaturas. Sabemos que devemos seguir exigindo do Lula a retirada das tropas, mas não temos ilusões de que Lula se sensibilizará com nossos apelos. Ele não está desavisado sobre o que se passa no Haiti. Ele sabe muito bem e aprova o massacre. Essa foi a opção que Lula fez ao se aliar com a burguesia brasileira e submeter-se completamente ao imperialismo americano. A única chance de Lula ceder e retirar as tropas seria uma campanha de massas que tivesse força para obrigá-lo a fazer isso.

Tomamos conhecimento de um chamado por uma jornada continental pela retirada das tropas da ONU do Haiti. Esse chamado que era encabeçado pela Central Autônoma dos Trabalhadores do Haiti (CATH) e assinado por dezenas de entidades operárias, populares e juvenis haitianas, se dirigia aos povos do continente americano convocando uma jornada de lutas no dia 10 de Outubro, exigindo que seus governos não permitissem a renovação da Missão da ONU. No Brasil atendemos ao chamado e participamos do ato em frente ao escritório regional do governo federal em SP, na Av. Paulista, convocado pelo MST, CMP, entidades sindicais e alguns poucos parlamentares do PT. Os presentes no ato não passavam de 50 pessoas. Os milhares de transeuntes na Av. Paulista que passavam pelo ato não faziam a menor idéia do que estava em questão. Nos outros países os atos foram ainda menores.

Por isso se faz urgente e necessária uma campanha ampla de propaganda e agitação. Textos, fotos, vídeos que expliquem que não podemos aceitar que dinheiro público brasileiro seja destinado para esse fim e nem que jovens militares brasileiros sejam enviados para o Haiti para massacrar os nossos irmãos haitianos e nem que essa missão de ocupação sirva de escola para tropas aprenderem como massacrar os jovens negros e pobres nas favelas e periferias do Brasil.

Uma campanha de intervenções urbanas nas grandes cidades brasileiras que levem o problema ao conhecimento do maior número possível de jovens e trabalhadores, com palavras de ordem que exijam:

• Fim da ocupação Militar Já! Retirada imediata das tropas da ONU!

• Pelo direito a autodeterminação do povo haitiano!

• Fim dos assassinatos, abusos sexuais e massacres dos pobres pelas tropas da ONU e Polícia Nacional!

• Liberdade aos presos políticos – parem com as detenções ilegais e torturas no Haiti!

• O Presidente Aristide deve ter a liberdade de retornar ao Haiti!

• Os executores do golpe e massacres dos pobres devem ser punidos! Indenizações para as vítimas!

• Lula, traga os soldados brasileiros pra casa!


São Paulo, 15 de Outubro de 2008.

Autor: Caio Dezor, do Comitê brasileiro da campanha "Tirem as Mãos da Venezuela" e militante da Esquerda Marxista.

http://www.marxismo.org.br/index.php?pg=artigos_detalhar&artigo=230